A disputa não é recente e remonta a períodos anteriores marcados por crises políticas e...
A tensão entre Executivo e Legislativo, após o veto presidencial de R$ 5,6 bilhões em emendas parlamentares no início de 2024, representa mais um episódio do contínuo embate entre os dois Poderes pela hegemonia no controle do Orçamento.
A disputa não é recente e remonta a períodos anteriores marcados por crises políticas e manobras regimentais que propiciaram não apenas a ampliação das prerrogativas dos congressistas na definição dos gastos, mas também levaram a um elevado nível de distribuição de recursos, que por vezes carecem de transparência, resultando em casos de corrupção e distorções na indicação do destino do dinheiro público.
O conflito entre Executivo e Legislativo tem como ponto de partida a rigidez do Orçamento, no qual cerca de... |
Na prática, as emendas parlamentares e a definição dos ministérios do governo para gastos disputam a prioridade de execução em um cenário orçamentário restrito. Até 2014, entretanto, o governo federal tinha uma ampla liberdade para escolher para onde o dinheiro deveria ir e ainda gozava de autonomia para não executar as emendas, mesmo aquelas já aprovadas. Em reação, os congressistas promoveram uma série de mudanças legislativas para garantir que essas programações orçamentárias fossem efetivamente pagas.
Os congressistas promoveram uma série de mudanças legislativas para garantir que essas... |
Liderado pelo Centrão, o processo de redesenho orçamentário foi
consolidado em 2015, quando o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha, articulou a aprovação da Emenda Constitucional nº 86. A partir dali, o
governo passou a ser obrigado a destinar os recursos das emendas individuais
dos parlamentares conforme indicado por eles. A emenda também estabeleceu que
1,2% de toda a receita corrente líquida do governo fosse destinada à indicação
dos congressistas – com a PEC da Transição, de 2022, o montante foi ampliado
para 2%.
As mudanças nas leis orçamentárias provocaram um aumento significativo no número das emendas individuais, resultando em pagamentos recordes de cerca de R$ 22 bilhões em 2023, ante R$ 3,7 bilhões em 2015.
Na avaliação do economista Marcos Mendes, pesquisador do Insper, o elevado volume de recursos dificulta a realização de uma... |
Descaracterização das emendas apresentadas por bancadas parlamentares
Em 2019, o Centrão reforçou sua influência sobre o Orçamento com a aprovação da Emenda Constitucional nº 100, que ampliou o orçamento impositivo, tornando obrigatório também o pagamento das emendas de bancada, aquelas de autoria coletiva e que reúnem os parlamentares do mesmo Estado ou do Distrito Federal, mesmo que sejam filiados a partidos diferentes.
A modalidade de emenda, que em 2023 destinou R$ 8,9 bilhões, é alvo de críticas justamente devido à falta de transparência no momento da... |
A depender do tamanho da bancada, surgem também os chamados “rachadão” e “rachadinha”. O primeiro é uma prática na qual os congressistas distribuem informalmente entre si o total de emendas disponíveis na bancada, ocorrendo especialmente nos Estados que possuem um número maior de emendas do que o total de parlamentares. Em outras palavras, cada deputado ou senador pode patrocinar pelo menos uma emenda dentro de uma lógica semelhante à da emenda individual, ampliando o direcionamento de recursos para suas bases eleitorais.
Considerado o ápice da reconfiguração orçamentária, o final do primeiro ano do... |
As emendas de bancada também experimentaram um aumento nos recursos pagos. Em 2017, o montante pago era de 1,1 bilhão. No último ano, por sua vez, esse valor aumentou significativamente, atingindo cerca de R$ 6,6 bilhões.
Emenda Pix, orçamento secreto e a falta de transparência
Também no ano de 2019, o Congresso implementou novos mecanismos para ampliar suas prerrogativas em matéria orçamentária através da Emenda Constitucional nº 105, que instituiu a modalidade da emenda Pix, caso revelado pelo Estadão. A inovação orçamentária permitiu aos parlamentares transferir dinheiro federal diretamente para Estados ou municípios, sem vinculação a nenhum projeto específico de política pública e antes mesmo de qualquer obra ou serviço ser entregue, ou seja, não se sabe com o que os recursos foram efetivamente gastos.
É justamente, a partir da vigência do Orçamento Secreto que as emendas pagas atingiram os... |
Considerado o ápice da reconfiguração orçamentária, o final do primeiro ano do governo Bolsonaro também ficou marcado pelo estabelecimento das emendas que tinham o código “RP-9?, conhecido como Orçamento Secreto, caso também revelado pelo Estadão. Embora essa modalidade de emenda já existisse no Congresso, foi necessário aprovar outras leis para permitir ao relator-geral do Orçamento manejar elevados volumes de recursos.
Não é à toa que o Centrão turbinou, por meio da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, as emendas de... |
É justamente, a partir da vigência do Orçamento Secreto que as emendas pagas atingiram os maiores patamares. Durante esse período, o Planalto destinou bilhões de reais para essas emendas de relator, o que foi interpretado como uma forma de fazer barganha política com o Legislativo.
A operação segue o mesmo modelo: os nomes dos parlamentares que fazem as indicações são omitidos – tudo o que aparece é o... |
No final de 2022, o Orçamento Secreto foi considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) devido à falta de transparência na indicação de seus beneficiários. Mesmo com o fim do mecanismo, o governo Lula pagou R$ 34,5 bilhões em emendas no primeiro ano de governo, em 2023.
Mesmo que sejam filiados a partidos diferentes. |
Emendas de Comissão e a reprodução do sistema do
orçamento secreto
Não é à toa que o Centrão turbinou, por meio da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, as emendas de comissão, aquelas que os recursos são indicados pelas comissões permanentes da Câmara e do Senado. No fim do ano passado, foram aprovados R$ 16,7 bilhões para este tipo de emenda. O movimento é visto como uma tentativa de reproduzir o sistema do orçamento secreto.
A decisão do STF pela inconstitucionalidade do mecanismo, segundo Bertholini, não sinaliza o término do avanço das... |
A operação segue o mesmo modelo: os nomes dos parlamentares que fazem as indicações são omitidos – tudo o que aparece é o... |
Conforme o Estadão revelou, o presidente da
Câmara, Arthur Lira (PP-AL), quer emplacar emendas do orçamento secreto com o
carimbo da Mesa Diretora da Casa, uma das comissões do Congresso.
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