Situado nas Limítrofes de São José de Ribamar, imortal da Academia Ludovicense de Letras conta um pouco da verdadeira história que se arrola ao nome do bairro histórico
Para
Noberto, o ‘i’ deveria ocupar o lugar que lhe é de direito em substiuição ao
‘y’ adotado em Araçagy
Araçagi,
o cajueiro do papagaio
Por
Antonio Noberto
Não se destrói um povo enquanto não se
extermina a sua cultura e o seu legado. Esta assertiva pode ser bem ilustrada
na determinação do competente Secretário de estado do reino de Portugal,
Sebastião José de Carvalho e Melo (1699 – 1782), o Marquês de Pombal, que na
segunda metade dos anos mil e setecentos proibiu no Brasil o uso de qualquer
outra língua que não o português. A decisão, aparentemente, era a pá de cal na
língua nativa, a mais falada no Brasil à época. O que se viu depois foi a
continuação da dizimação através da depreciação e aviltamento de vários termos
indígenas, a exemplo de cunhã (que pode significar prostituta), curumim
(moleque, pivete), pindaíba (pobreza extrema), pajelança (atitude
destrambelhada), dentre outros, que foram e continuam sendo sistematicamente
modificados com o objetivo principal de encobrir um passado virtuoso
corrompendo a língua dos primeiros habitantes do Brasil.
Soma-se a isto a cobiça de jogar no
fosso os outros dois concorrentes do colonizador: o negro e, principalmente, o
estrangeiro, primeiro a trazer a cultura escrita para a terra Papagalis, quando
colocou no papel e imortalizou a língua, além de muito dos usos e costumes da
população autóctone.
E um dos termos desvirtuados é a palavra
Araçagi, que representa uma das localidades mais antigas e importantes da Ilha
de São Luís, habitada por franceses e tupinambás desde o final dos anos mil e
quinhentos. O estudo desta simples palavra de origem tupi nos remete ao mundo
mágico e de harmonia vivido pelos mais antigos moradores do lugar, que, mesmo
em tempos tão remotos, produziam e exportavam riquezas do tipo urucum e açúcar
para lugares bem distantes.
Não faz muito tempo que a quase
totalidade dos maranhenses pronunciava errônea e grosseiramente “Campo de
Perizes”, em referência aos dezenove quilômetros por onde passa a BR 135, na
saída / entrada da Ilha de São Luís.
A escrita e pronúncia corretas em tupi, ligeiramente aportuguesada, é Campo dos Peris ou Campo de Peris, vez que a palavra originária do tupi é “piri”, que representa o junco ou capim que cobre o lugar alagado. E nas oxítonas terminadas em “i” forma-se o plural acrescentando-se apenas o “s”. Importante destacar que muitas outras localidades e acidentes geográficos no Maranhão e Piauí também foram nomeados a partir da maciça presença deste capim, a exemplo de Peritoró, Piripiri, Peri Mirim e Pericumã.
A recente divulgação da grafia correta permitiu que muita gente e a maior parte da mídia abandonasse a aberração “perizes” e adotasse a forma correta, convergindo, assim, para a máxima de que “Em São Luís se fala o melhor português do Brasil”.
Outro termo curioso que vale a pena se debruçar e buscar a raiz etimológica e a história do lugar é Araçagi, que em tempos muito iniciais era um “país a parte”, com porto, produção e vida própria, era também uma espécie de hiato ou meio caminho entre a desembocadura do “Rio Maranhão” – o Itapucuru, e a foz do rio Mearim.
Este ancoradouro tinha caráter mais internacional, pois especializado em receber mercadorias dos portos franceses de Rouen, Dieppe, Saint-Malo, La Rochele e Havre de Grace, e as riquezas vindas da região amazônica e do rio Mearim, a exemplo do sal (de salinas, na Baixada).
Outro termo curioso que vale a pena se debruçar e buscar a raiz etimológica e a história do lugar é Araçagi, que em tempos muito iniciais era um “país a parte”, com porto, produção e vida própria, era também uma espécie de hiato ou meio caminho entre a desembocadura do “Rio Maranhão” – o Itapucuru, e a foz do rio Mearim.
Nos primórdios do lugar, entre o final dos mil e quinhentos e início dos mil e seiscentos o Araçagi estava localizado entre duas fortalezas francesas existentes à época: o Forte Sardinha, situado na então Ilha do São Francisco, que guarnecia a entrada da Ilha e Miganville (atual Vinhais Velho) e o porto de Jeviré (na Ponta d’Areia).
Este ancoradouro tinha caráter mais internacional, pois especializado em receber mercadorias dos portos franceses de Rouen, Dieppe, Saint-Malo, La Rochele e Havre de Grace, e as riquezas vindas da região amazônica e do rio Mearim, a exemplo do sal (de salinas, na Baixada).
Este complexo ou reduto gaulês está descrito na tela “São Luís antes da fundação”, que compõe o acervo da exposição França Equinocial para sempre. A outra fortaleza era o Forte de Itapari, depois reformado em pedra por Daniel de la Touche, quando recebeu o nome de Le Fort de Caillou (o forte de pedra), que virou Caur e hoje é Caúra, em São José de Ribamar.
Do pouco que é possível encontrar sobre o Araçagi nas literaturas em tão distante período, pode-se extrair que o lugar era dinâmico, produtor e bastante movimentado, com localização bem próxima à Ilha de Curupu e do porto, onde hoje está a imagem de São José. Neste ancoradouro da baía de Guaxenduba aconteciam muitas movimentações da produção que descia o rio Itapecuru ou da Ilha Grande pelos pequenos portos de Jussatuba, Quebra Pote, Arraial, etc.
O Araçagi era, portanto, o elo entre os dois fortes e os dois maiores portos da Ilha Grande, e possuía o que seria o único engenho de açúcar de Upaon Açu, os demais estavam no rio Itapucuru Mirim. Em vários textos, livros e mapas é possível encontrar o nome do lugar grafado de diferentes formas, a exemplo de araju, araçaju, arasaju, arasagi, arassagi, araçoagi, arassoagi e araçagy.
Mas enfim, qual a grafia original e o significado da palavra Araçagi? Verificando mapas (ver detalhes dos mapas dos anos mil e seiscentos), livros e a própria história, chega-se ao termo original aracaju (ara = papagaio + caju), que em português quer dizer “cajueiro do papagaio”.
É a mesma origem etimológica do nome da capital sergipana. As principais variações se dão pela troca do “c” pelo “s”, do “j” pelo “g” e do “u” pelo “i” (o “u” no francês pronuncia-se “i”), como acontece no nome do rio “ItapUcuru”, pronunciado “ItapIcuru”. Araçagi é, portanto, Aracaju, o cajueiro do papagaio.
Considerando que o termo Araçagi já é uma tradição oral e escrita do tupi aportuguesado, quem preza ou tem apreço pela cultura nativa deve, ao menos, escreve-la sempre com “i” no final, pois a grafia com “y” termina por tutelar e encobrir uma história antiga vivida por franceses e tupinambás que habitavam, comercializavam e viviam em paz no “país do Aracaju”, região da Ilha Grande que mais cresce nos últimos anos.
Antonio Noberto é Membro-fundador da Academia Ludovicense de Letras (ALL), sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM) e curador da “exposição França Equinocial para sempre”, em cartaz no Forte de Santo Antonio, no Espigão da Ponta d’Areia.
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