O mundo tinha enorme respeito pelo carismático líder político africano. Mas, sob a sua Presidência, o povo...
O mundo tinha enorme
respeito pelo carismático líder político africano. Mas, sob a sua Presidência,
o povo sofreu a corrupção, pobreza e um regime autoritário de partido único.
Kenneth Kaunda morreu hoje, aos 97 anos.
No dia 24 de outubro de
1964, foi hasteada a nova bandeira verde-vermelha-negro-laranja da Zâmbia na
capital, Lusaka, a 24 de outubro de 1964. O pai da independência e da nação,
Kenneth Kaunda, assumiu a Presidência do país, apesar dos seus pais serem
oriundos do vizinho Malawi. O seu progenitor mudara-se para a Zâmbia, na altura
ainda uma colónia britânica, como missionário protestante. Foi aqui que Kaunda
nasceu, em 1924.
O mundo tinha enorme respeito pelo carismático líder político africano. Mas, sob a sua Presidência, o povo sofreu a corrupção, pobreza e um regime autoritário de partido único. |
O prestígio de Kaunda cresce com o seu envolvimento como mediador em numerosas crises na região. O líder zambiano procura o diálogo com o Governo de... |
Do humanismo zambiano
ao Estado de partido único
Ainda assim, Kaunda
conseguiu manter a união nacional. Tal como fizeram os fundadores do Gana,
Kwame Nkrumah, e da Tanzânia, Julius Nyerere, o Presidente inventou uma
filosofia pensada para unir a sociedade. O "humanismo
zambiano" é uma mistura de valores cristãos, tradições africanas e
princípios orientadores socialistas. "O homem não deve viver só de pão,
mas é isso que as pessoas fazem hoje em dia. É por isso que não temos paz,
porque as pessoas só lutam por coisas materiais, mas esquecem a
espiritualidade", dizia Kaunda.
A 24 DE OUTUBRO DE 1964 Hasteada a nova bandeira verde-vermelha-negro-laranja da Zâmbia na capital, Lusaka. |
O prestígio de Kaunda
cresce com o seu envolvimento como mediador em numerosas crises na região. O
líder zambiano procura o diálogo com o Governo de apartheid na África do Sul, a
fim de resolver pacificamente a situação no país vizinho. Envolve-se também
como mediador na guerra civil angolana. Ao mesmo tempo, apoia os movimentos de
libertação namibiano SWAPO e ZAPU, no Zimbabué. "As massas africanas
nestes países querem participar no poder. Os governos das minorias usam da
força para as impedir. É ilusório esperar que as populações fiquem sossegadas
durante muitos mais anos", disse Kaunda, na altura.
MÉTODOS DRACONIANOS Aos poucos Kaunda transforma o seu país num Estado monopartidário. E agarra-se ao poder. A polícia e os... |
Alegria pelo fim da era
Kaunda
As tensões no país
aumentam. Graças aos seus enormes depósitos de cobre, a Zâmbia é, na realidade,
rica. Kaunda nacionaliza as minas. Mas, no final da década de 1970, os preços
nos mercados mundiais entram em colapso. As importações também são cada vez mais
caras: a Zâmbia não tem acesso ao mar e as guerras civis na região vedam muitas
vias de transporte.
A corrupção crescente e
a ineficiência gritante das empresas estatais agravam o fraco desempenho
económico. Começam a faltar bens essenciais à população. Kaunda rejeita
qualquer responsabilidade pessoal. "Ganhamos pouco com nossos produtos nos
mercados mundiais. Mas pagamos preços excessivos por tudo o que
importamos", queixou-se Kaunda em reportagem.
REPRESSÃO PELO EXÉRCITO A população começa a perder a confiança no seu líder. Em 1986, dão-se motins sangrentos, que Kaunda manda... |
Mas a sociedade civil e
os sindicatos não calam as suas reivindicações de eleições livres. Kaunda
concorda e perde as eleições de 1991. "A alegria no país foi grande",
recorda o missionário Stenger.
Retirada da política
No fim da era Kaunda, a
Zâmbia continua a ser um dos países mais pobres e endividados do mundo. O novo
Governo vira-se contra o pai da nação, declarando que Kaunda é estrangeiro,
porque os seus pais vieram do Malawi. Só protestos maciços impedem as
autoridades de deportar o ex-Presidente. Em 1996, Kaunda anuncia que pretende
concorrer novamente à presidência. O seu sucessor, Frederick Chiluba, recorre a
um truque para o impedir: a constituição é alterada de modo a só permitir candidaturas
de políticos cujos pais nasceram na Zâmbia.
A constituição é alterada de modo a só permitir candidaturas de políticos cujos pais nasceram na Zâmbia. |
DW
EDIÇÃO DE ANB
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