sexta-feira, 24 de julho de 2020
Partidos
progressistas como PSB e PCdoB começam a se reorganizar para superar a
hegemonia petista, centrada na figura de Lula. Governador do Maranhão fala em
fusão e na criação de um MDB esquerdista
As
articulações em torno das eleições municipais, mesmo que afetadas pela
pandemia, estão deixando cada vez mais claro que o campo esquerdista precisa
superar a hegemonia petista e a figura personalista do ex-presidente Lula. Os
extremos que lideraram em 2018, o PSL bolsonarista de um lado, e o PT, de
outro, estão em baixa, permitindo a reacomodação das forças moderadas. Com
isso, avançam as negociações para a criação de uma nova agremiação de esquerda,
que está sendo chamada de novo “MDB de esquerda” pelo governador do Maranhão,
Flávio Dino. Um dos principais incentivadores desse rearranjo no campo
progressista, Dino é um entusiasta da fusão de seu partido, o PCdoB, com o PSB.
Com isso, avançam as negociações para a criação de uma nova agremiação de esquerda, que está sendo chamada de... |
Com base
forte em Pernambuco, o PSB realizou recentemente uma reunião no Rio de Janeiro
para discutir novos caminhos. Estavam presentes algumas das principais
lideranças, como o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, e o do Espírito
Santo, Renato Casagrande. A legenda cansou da hegemonia petista. Desde 2014,
quando o então presidenciável Eduardo Campos concorreu contra Dilma Rousseff,
já havia a disposição de trilhar uma via independente. Desde então, não formou
mais chapa com o PT e concorreu de forma independente. Agora, a ideia é firmar
a imagem do partido com uma plataforma moderna, amparada nos estados que
administra — e que podem servir de vitrine eleitoral para 2022. É a proposta do
governador de Espírito Santo. O estado tem mantido a tradição de disciplina fiscal
que já era praticada nas gestões passadas. Casagrande, que é um possível
candidato à presidência em 2022, afirma que o partido precisa encontrar um
caminho próprio, sem ser coadjuvante do PT. Já o PCdoB, que sempre assumiu um
papel coadjuvante com o partido de Lula, pode também se afastar da órbita
petista — é a aposta do governador do Maranhão.
ISOLADO Lula
deseja que o PT mantenha a hegemonia
e rejeita a participação em movimentos contra Bolsonaro: outros partidos se afastam do ex-presidente. |
Mea-culpa do
PT
O PT
continua refém da cúpula lulista, que insiste em candidaturas próprias para as
eleições municipais. Isso tem levado algumas lideranças a se desgarrarem da
direção. É o caso do governador do Ceará, Camilo Santana, que defendeu em 2018
uma chapa presidencial encabeçada por Ciro Gomes (PDT), tendo Fernando Haddad
como vice. “Temos mais convergências do que divergências com o Ciro”, continua afirmando
Santana. A insistência do PT em liderar a chapa levou a uma ruptura com o
pedetista, que chegou a viajar para Paris durante o segundo turno das últimas
eleições presidenciais. O episódio impede que Ciro Gomes caminhe junto com os
petistas em 2022, como tem reiterado enfaticamente. Ciro sonha em concorrer
novamente ao Planalto. Camilo Santana, que tenta se habilitar no cenário nacional
visando 2022, vai mais longe. Ele defende que o PT reconheça os erros do
passado — o envolvimento no Petrolão, entre eles — como forma de renovar o
partido e criar uma nova base. É uma visão mais ousada do que o governador
baiano, Rui Costa, que mantém bons índices de popularidade em seu estado e tem
evitado o debate sobre o mea-culpa petista. Já a presidente do PT, Gleise
Hoffmann, descarta totalmente a visão revisionista. Insiste no lançamento de
candidatos próprios nas eleições municipais deste ano, mesmo que as pesquisas
prenunciem um desastre semelhante ao que o partido enfrentou nas eleições
municipais de 2016, quando perdeu metade das prefeituras que administrava. Ela
fala por Lula, que insiste na reabilitação da sua biografia e se recusa a integrar
os movimentos suprapartidários que se avolumam contra Jair Bolsonaro. O
ex-presidente também não permite que novas lideranças independentes se
destaquem.
FUTURO
Flávio Dino, do Maranhão, aposta na criação de um novo partido unindo PCdoB e
PSB: desejo de liderar em 2022.
|
As eleições
municipais deste ano podem levar a um cenário para 2022 em que o PT vai ocupar
um papel bem menor do que se acostumou nas últimas décadas. O desgaste do
ex-presidente e uma base municipal ainda mais debilitada não devem dar o mesmo
suporte que beneficiou Fernando Haddad há dois anos. Ele mesmo precisa lutar
para se manter em evidência. Tem conversado fora dos holofotes com Flávio Dino
e Marcelo Freixo (Psol), outro nome que entrou em choque com a cúpula de seu
partido ao pregar um debate mais amplo entre as forças de esquerda. O
ex-prefeito de São Paulo precisou lutar com a cúpula do PT para não participar
das eleições municipais desse ano na capital paulista, pressentindo um
desastre. O candidato da legenda, Jilmar Tatto, tem chances mínimas em
novembro, o que levou outros nomes de esquerda a disputar o espólio petista. É
o caso de Guilherme Boulos, do Psol, que vai concorrer e tem ganhado adeptos
desiludidos do PT, como o ex-presidente do partido,Tarso Genro. “As disputas
entre os progressistas giram mais sobre fatos pretéritos do que sobre propostas
para o futuro. É preciso priorizar mais o futuro dos cidadãos que o julgamento
de erros do passado”, afirma Flávio Dino, com otimismo. Mas as disputam
persistem. Para 2022, o maior problema da nova esquerda é a ambição das velhas
lideranças, que não abrem mão de seu protagonismo.
As
informações são do repórter Marcos Strecker
Edição de
ANB
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