sexta-feira, 1 de maio de 2020
''Iremos aprender muito com tudo isso que estamos passando. Vamos valorizar mais os encontros. Vamos valorizar mais os afetos, as pessoas. Esta epidemia está mostrando que a gente precisa ter consciência que, de fato, somos todos iguais...''. 

O médico formado pela Universidade Federal do Maranhão, Marcos  Pacheco, que é também formado em Direito pela Universidade Ceuma, além de mestre e doutor em Políticas Públicas pela UFMA e  professor universitário, é o secretário de Estado de Políticas Públicas do Governo  e  representa o Maranhão no Comitê Científico do Consórcio Nordeste de enfrentamento ao Coronavírus. 

Uma das figuras centrais na concepção de propostas e ideários que deem aos maranhenses uma resposta, a  contento, à pandemia, Pacheco lidera  a Frente Estadual de Saúde do Governo do Maranhão. Há duas semanas, ele esteve ao lado do governador em coletiva de imprensa que apresentou ao estado medidas que vem sendo tomadas pelo Executivo no combate à Covid-19.

Nessa entrevista a Agência Baluarte, Marcos Pacheco traça um panorama do cenário pandêmico no estado; fala das prerrogativas de atuação da SEEP e da posição da Secretaria diante  da crise; aproveita ainda para lançar luz sobre um Maranhão pós-pandemia. Tudo sem perder a esperança. Boa leitura:

POR FERNANDO ATALLAIA
EDITOR-CHEFE DA AGÊNCIA BALUARTE

Agência Baluarte- O senhor apresentou em coletiva, ao lado do governador Flávio Dino, medidas que vem sendo adotadas pelo Executivo estadual no combate ao Coronavírus. No âmbito da SEEP, quais ações a Secretaria de Estado de Políticas Públicas tem   desenvolvido  no enfrentamento da pandemia?

Marcos Pacheco- A SEEP tem participação na conformação e na execução do Plano Estadual de Contingência no enfrentando ao Coronavírus. Participa de forma efetiva no Comitê Científico do Consórcio Nordeste de combate ao Coronavírus, onde estou representando o Governo do Maranhão no Comitê. Participo de três frentes de trabalho neste comitê: a discussão e análise de modelos matemáticos das curvas de incidência e letalidade da doença no âmbito do Nordeste e do Maranhão; a revisão e metanálise de artigos científicos que são produzidos em todo o mundo com relação ao coronavírus e de que maneira as conclusões destes artigos podem ser aproveitados em nosso cenário no território nordestino; e a validação de equipamentos médicos por meio do sub-comitê de tecnologia e engenharia médica.
Além disso, a Secretaria também tem uma participação efetiva no apoio  e na organização dos fluxos assistenciais dos pacientes, em uma integração entre as UPAs e as Unidades Básicas de Saúde, por meio da Força Tarefa Discente, que é uma participação de alunos, estagiários, e, sobretudo, formandos de medicina, enfermagem, fisioterapia e farmácia, tendo a Seep o papel de coordenar este trabalho. A secretaria também coordena uma frente de acompanhamento e monitoramento de pacientes via call center, como também por meio de aplicativo que foi disponibilizado pelo Comitê Científico do Consórcio Nordeste, que é o MonitoraCorona. O aplicativo pode ser utilizado por qualquer pessoa, que faz a estratificação de risco e ao final, dependendo da condição clínica, um profissional de saúde entra em contato com a pessoa para tirar dúvidas e orientar sobre a assistência clínica.
O secretário Marcos Pacheco em entrevista a Agência Baluarte: ''Quem trouxe a doença para cá foram pessoas que podem viajar para o exterior, e foram essas que primeiro foram atacadas pela doença. Os primeiros óbitos foram de pessoas de classe alta, e hoje nós estamos vendo o sistema de saúde público e privado se estrangulando. E nessa hora, mesmo que você seja de classe alta, você se torna igual a todo mundo. Mesmo que você possa pagar, não tem para onde ir. Isso também é uma lição que devemos aprender, e o resumo dessa lição é que nós temos que ter grandes sistemas de saúde, que sejam universais, integrais, que sejam equitativos: essa é a grande lição, a ideia de que o Estado pode até ser capitalista, a sociedade pode até ser de mercado, mas quando se trata da vida humana não dá para pensar só na lógica capitalista, não dá para pensar só na lógica do mercado. Temos que pensar em uma lógica solidária, humanista, e que abra os braços para tratar todos da mesma forma. Todos nós somos filhos do mesmo Pai''. 

Agência Baluarte- A Fesma, ligada à SEEP, atua de forma descentralizada nas cidades maranhenses apenas em momentos excepcionais de crise  e em circunstâncias  de calamidade? Fale um pouco aos nossos milhares de leitores, qual papel desempenha a Frente, de maneira geral.

Marcos Pacheco- A Força Estadual de Saúde do Maranhão (Fesma),  é uma força-tarefa que atua em regiões de grande vulnerabilidade, tanto social como sanitária, dando apoio aos municípios na atenção básica. Neste cenário da pandemia, a Fesma está atuando no Centro de Testagem e reforçando a participação médica com seus profissionais (médicos e enfermeiros) nas portas (triagem) de pronto atendimento das UPAs, além de supervisionar o trabalho da Força Tarefa Discente, que é composta por alunos. Todas as equipes de alunos têm os supervisores, que são os profissionais que acompanham e monitoram o trabalho para que não tenha nenhum equívoco e nem deslize técnico.

Agência Baluarte- Qual avaliação o senhor faz  do atual cenário da pandemia no estado? Em que momento o isolamento social não será mais necessário? É possível prever?


Marcos Pacheco- O cenário atual está dentro do esperado, dos modelos matemáticos que são aplicados à população do Maranhão, que apontam para que muito provavelmente iremos chegar ao final de maio com um número de casos cinco ou seis vezes maior que o temos agora. Iremos sextuplicar o número de casos em menos de quatro semanas. O número de óbitos vai acompanhar, mais ou menos, não com essa mesma grandeza. Nosso grande desafio hoje é exatamente descolar o número de óbitos do número de casos confirmados. O desafio da rede assistencial é não deixar o número de óbitos acompanhar, proporcionalmente, o número de casos. Pois o número de casos confirmados pode até subir, e isso não é tão ruim, já que à medida que o número de casos sobe, as pessoas irão contrair o vírus e ficarão imunes. Quando a quantidade de pessoas que já contraíram o vírus passar de 70% da população, o vírus não terá mais como circular. Portanto, o número de casos pode subir, mas o que não pode subir é o número de óbitos. Para descolar esses números temos que ampliar e aperfeiçoar a rede de assistência. Isso é fundamental. Neste momento não temos como dizer até quando vai o isolamento, já que depende muito do número de casos e da taxa de letalidade. Por exemplo, a letalidade aumentando, será necessário apertar o isolamento. Se o número de casos aumentar e a letalidade não acompanhar, daria até para fazer uma flexibilização do isolamento, que não é o caso que estamos passando neste momento. O ideal é mantermos o isolamento social diante da situação atual.

Agência Baluarte- Foram registrados até ontem (30), 2. 804  casos confirmados, 166 óbitos e 7. 232  casos suspeitos. O Sistema de Saúde maranhense vem dando uma boa resposta à Covid-19? Qual é, hoje, a principal dificuldade no atendimento das demandas?

Marcos Pacheco- A nossa maior dificuldade é em providenciar equipes médicas, pois muitos colegas estão adoecendo e não temos como repor. Os que estão trabalhando precisam se desdobrar. É uma grande luta cotidiana.

Agência Baluarte- Qual  cenário pós-pandemia o senhor vislumbra no Maranhão?

Marcos Pacheco- Iremos aprender muito com tudo isso que estamos passando. Vamos valorizar mais os encontros. Vamos valorizar mais os afetos, as pessoas. Esta epidemia está mostrando que a gente precisa ter consciência que, de fato, somos todos iguais, dentro das nossas diferenças, de identidade, de etnicidade, do ponto de vista da dignidade: nós somos todos iguais! Essa é uma doença que entrou no Brasil por meio das classes mais favorecidas. Quem trouxe a doença para cá foram pessoas que podem viajar para o exterior, e foram essas que primeiro foram atacadas pela doença. Os primeiros óbitos foram de pessoas de classe alta, e hoje nós estamos vendo o sistema de saúde público e privado se estrangulando. E nessa hora, mesmo que você seja de classe alta, você se torna igual a todo mundo. Mesmo que você possa pagar, não tem para onde ir. Isso também é uma lição que devemos aprender, e o resumo dessa lição é que nós temos que ter grandes sistemas de saúde, que sejam universais, integrais, que sejam equitativos: essa é a grande lição, a ideia de que o Estado pode até ser capitalista, a sociedade pode até ser de mercado, mas quando se trata da vida humana não dá para pensar só na lógica capitalista, não dá para pensar só na lógica do mercado. Temos que pensar em uma lógica solidária, humanista, e que abra os braços para tratar todos da mesma forma. Todos nós somos filhos do mesmo Pai.

Agência Baluarte- Marcos Pacheco como médico, profissional das Políticas Públicas  e agente público, deixaria qual mensagem aos maranhenses  nesse difícil momento  vivenciado pelo estado?

Marcos Pacheco-
Fiquem em casa!

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