sábado, 25 de janeiro de 2020
Médico infectologista diz que vigilância epidemiológica é bem
montada e tem a capacidade de identificar casos e responder rapidamente
O médico infectologista Carlos
Magno Fortaleza, do Departamento de Doenças Tropicais da Faculdade de Medicina
da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu, disse que o Brasil está
exposto ao coronavírus, causador da pneumonia indeterminada que já matou 17
pessoas na China, mas tem a vantagem de possuir uma boa rede de vigilância
epidemiológica. Em 2003, segundo ele, isso evitou que outro coronavírus,
identificado como SARS, que se espalhou pelo mundo, entrasse no país.
“Naquele caso, a doença começou na
China, passou para outros países e foi contida graças a um grande esforço
internacional.”
No evento atual, ele considera que
o Brasil é tão exposto como qualquer outro país que tenha contato através de
viajantes com a China.
“Hoje, o mundo é todo conectado por transportes aéreos de
longa distância e muito rápidos, então estamos diante de uma situação, sim, de
risco internacional. O que temos a nosso favor é que nós fazemos parte de um
grupo de países que têm muito bem montada a vigilância epidemiológica, a
capacidade de identificar casos e responder rapidamente.”
Segundo ele, essa estrutura foi montada ao longo dos últimos
20 ou 30 anos no Brasil e hoje está bastante sólida.
Cerco teria evitado entrada de coronavírus no Brasil em 2003. |
“A nossa capacidade de agir rapidamente, identificar a doença
e notificar os casos talvez seja a nossa maior segurança, algo que poucos
países não desenvolvidos têm.”
De acordo com o especialista, as medidas iniciais tomadas
pelo governo brasileiro, de monitorar aeroportos, portos e postos de fronteira,
é o que se pode fazer, de acordo com as normas da Organização Mundial de Saúde.
A expectativa agora é sobre a decisão da OMS de se considerar
ou não a situação de emergência de saúde pública de importância internacional.
“Quando isso é decretado, todos os países são chamados a colaborar
na vigilância de aeroportos, portos e fronteiras, em um trabalho conjunto. O
que temos hoje e que não tínhamos no passado é uma capacidade enorme de
comunicação. A maior parte dos países que têm uma estrutura melhor de saúde
pública já está em alerta.”
Fortaleza lembra que não existe segurança absoluta de que a
doença não chegue ao Brasil.
“O que podemos fazer é utilizar bem os nossos controles e
nossa capacidade de identificar e diagnosticar os casos. A China é um país
enorme, mas os casos estão vindo especificamente de uma região, da cidade de
Wuhan. A história mostra que condutas como restringir voos e fechar fronteiras
não evita que uma doença se localize no país. Os Estados Unidos fizeram isso
para conter o ebola, mas o ebola entrou a partir de imigrantes ilegais. O que
faz o Brasil, que não fecha a fronteira e trabalha com a informação, é muito
mais eficaz.”
AS INFORMAÇÕES SÃO DO JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO
EDIÇÃO DE ANB
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