sexta-feira, 1 de novembro de 2019
CRISE NO CHILE
Piñera admite que a violência nas ruas impossibilita a organização dos dois eventos

A maior crise política e social já sofrida pelo Chile desde o retorno à democracia em 1990, que deixou pelo menos 20 mortos, levou o presidente Sebastián Piñera a tomar uma decisão inédita: o país não será anfitrião nem do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), em novembro, nem da Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (COP25), em dezembro, duas grandes reuniões internacionais das quais participariam importantes líderes mundiais. Ao anunciar sua decisão em La Moneda nesta quarta-feira, o presidente disse que o Governo adotou essa medida “com profunda dor”. “Sentimos e lamentamos profundamente os problemas e os inconvenientes que esta decisão vai significar tanto para a APEC como para a COP. Mas, como presidente de todos os chilenos, tenho sempre de colocar os problemas e os interesses dos chilenos, suas necessidades, seus desejos e suas esperanças, em primeiro lugar”, declarou.

O anúncio ocorre quase duas semanas após a explosão dos protestos, que começaram pelo aumento da tarifa do metrô de Santiago, mas revelam um profundo sentimento de frustração da população que se sente à margem do caminho de desenvolvimento do país nos últimos 30 anos. Os protestos não pararam. Piñera anunciou um pacote de medidas sociais e, na segunda-feira, mudou oito pastas de seu Gabinete, incluindo as de sua equipe política e econômica. Mas não foi suficiente: as manifestações continuam diariamente tanto em Santiago quanto nas outras grandes cidades do país. Segundo informações oficiais do Executivo, além dos 20 mortos, 473 civis e 745 policiais e membros das Forças Armadas ficaram feridos em incidentes ocorridos nas mobilizações. Entre os dias 20 e 27 de outubro, 9.696 pessoas foram detidas, das quais 389 continuam em prisão preventiva e 778 tiveram sua detenção declarada ilegal. O Ministério do Interior apresentou 228 acusações.
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O anúncio de Piñera foi feito a 17 dias do início do encontro da APEC. 
O anúncio de Piñera foi feito a 17 dias do início do encontro da APEC. Um dos líderes que deveriam participar seria o presidente russo, Vladimir Putin. A Rússia, no entanto, anunciou na terça-feira que seu presidente não compareceria e que enviaria em seu lugar outro funcionário de alto nível. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, era outros dos mandatários confirmados. Ele tinha programado assinar no Chile seu acordo com o líder chinês Xi Jinping relativo à guerra comercial entre os dois países. “Sei que eles têm algumas dificuldades neste momento, mas conheço os chilenos e tenho certeza de que poderão resolver isso”, tinha dito Trump na segunda-feira. Mas sua presença no Chile teria sido vista como uma provocação em meio à complexa situação que o país atravessa, segundo a avaliação de diferentes grupos políticos.

Um país que está longe de recuperar a ordem pública, embora tenham sido levantados os estados de emergência e os toques de recolher, tampouco estava em condições de receber os milhares de ativistas do meio ambiente que chegariam ao país para acompanhar a cúpula climática que seria realizada de 2 a 13 de dezembro. Para esse encontro, do qual participariam representantes de 293 países, era esperada a visita da ativista sueca Greta Thunberg.

ROCÍO MONTES
EDIÇÃO DE ANB

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