quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019
Poesia Sempre!
Leia na íntegra o poema ‘Ela é a Morte’, da obra inédita Obsceno-Noite, Putas e Poesia, de autoria do poeta e jornalista maranhense Fernando Atallaia

Ela é a Morte

Ela é a morte
Com as veias dos soldados dependuradas nas trânsfugas cicatrizes
E por lá como arremedos, carpiam séculos de orgasmos ressequidos
Ninguém ousou disparar contra o bêbedo, esgoelado 

Com as veias dos soldados dependuradas nas trânsfugas cicatrizes
Como são alegres as meninas indo aos pães de toda tarde
Como são vistosas ao olho sem   luz  na janela antiga
Ela é a morte, mas também cantiga 
Às  orelhas dos pardais de duas vórtices

E menos esse sal que chega aos nossos olhos sem as praias nelas mesmas
Por onde os pés desnudos batem areias e  areias
Ela é a morte, mas nunca morta entre os  minúsculos  sentidos
Aqueles outros que fazem dela um animal às cavernas 

Ela é a morte e traz em si mesma as atômicas imagens
Do alto dos quadris às montanhas de  precipícios 
E como negar nele o ouro da  indolente felicidade?
Como respirar nela o fundo do abismo necessário?
Ela é a morte e traz em si mesma as atômicas imagens
Do alto dos quadris às montanhas de  precipícios  

Como nas manhãs de segunda as feiras são repletas de pássaros
E enfermos
Como nas manhãs, os enfermos são pássaros que vendem asas e legumes
Ela é a morte, o estrume que seca entre vozes de barraca
Mas há quem diga que  aspira fundo a arca dos netunos
A barca dos defuntos  rumo aos infernos da premência
E célere arranca na impotência a dor de um soluço enxuto, exasperado

Ela é a morte, mas também cantiga

 Às  orelhas dos pardais de duas vórtices
Como?
Se as raízes desse mundo são no mais das  vezes o pântano do hálito ausente
E entre os dentes cariam  tantas fúrias, falsidades
Como que na boca o vinho leve,  escarlate e sofrimento
Nada
Absolutamente nada fará dela este tormento
Ela é a morte
Aqui e  nas madrugadas

4 comentários:

  1. Muito forte o seu poema, forte e abrangente. Quero homenageá-lo com meu comentário, pois este comentário é nada mais do que o resultado do impacto em mim deixado. "A morte rasga a carne da soldadesca / em meio à intensa névoa e rebuliço / e a virgem, nua e exposta ao sacrifício / se banha toda em sangue na cena dantesca"

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  2. Simplesmente sem comparação Fernando, Você meu lindo é fora de serie um cara erudito e simples adoro voce Fernando sempre fui sua fã e te amooooooooooo seu lindooooooooooooo
    Renya Sá a sua Reninha rua do Bradesco

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  3. Nunca tinha lido algo tão lindo e majestoso em toda a minha vida
    Parabéns querido, você é grande!

    Sara Pinheiro(Facam)

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