terça-feira, 10 de abril de 2018
Análise sobre o tema nesta
quarta-feira (11) afeta não só caso do ex-presidente Lula, mas impacta os mais
pobres
A prisão após a segunda instância não resolve o problema da lentidão da Justiça, aumenta a sobrecarga do sistema penal e os riscos de se cometer injustiças. Essa é a avaliação de especialistas ouvidos pelo BdF na semana em que o Supremo Tribunal Federal (STF) analisa o entendimento da Corte sobre o tema.
O debate
voltou à tona após a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) em janeiro. O petista foi
preso no último sábado (7) após o STF negar seu habeas corpus preventivo, antes
que os ministros votassem duas ações diretas de constitucionalidade (ADCs)
que podem suspender a execução antecipada da pena.
O
advogado criminalista Fábio Tofic Simantob, presidente do Instituto de Defesa
do Direito de Defesa (IDDD), refuta a ideia de que a medida, entendida
como legal pelo Supremo em 2016, vai equilibrar o sistema penal. Para
Simantob, o princípio "passa a régua" ao violar a presunção de
inocência em todos os casos.
Ele
pondera que a existência da prisão preventiva é um dos mecanismos de
"freio e contrapeso" que a Justiça brasileira prevê para
diferenciar casos de gravidades distintas — medida da qual, segundo o
advogado, já se faz muitos abusos. De acordo com um levantamento feito pelo
Departamento Penitenciário Nacional (Depen), cerca de 40% dos presos estão
detidos provisoriamente e sequer foram julgados na primeira instância.
Para o
advogado, o problema da morosidade é estrutural. "Se os recursos levassem
seis meses para serem julgados, alguém estaria discutindo prisão em segunda
instância? Ou seja, o problema não é a quantidade de instâncias, mas a demora.
E por que não se propõe uma solução para isso?", questiona.
Na mesma
linha, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo afirma que se preocupa
com o impacto que a decisão vai trazer para o encarceramento em massa no
Brasil. Em nota, o órgão pondera que a iniciativa afeta principalmente a
população pobre.
"Para
além de poucos casos de grande repercussão midiática, a jurisprudência do STF
produz um impacto sobre toda a massa de casos julgados no país, que em sua
quase totalidade envolve pessoas carentes. A Defensoria tem divulgado, por
exemplo, diversos casos de furtos frustrados de baixíssimo valor –
desodorantes, peças de carne ou lenços umedecidos, entre outros – que são
arquivados por insignificância penal apenas após recursos a tribunais
superiores", afirma o texto.
Entre
setembro de 2015 a agosto de 2017, cerca de 500 pessoas foram inocentadas no
Supremo Tribunal de Justiça, o que equivale a apenas 0,60% dos casos que
chegaram no tribunal no período. No entanto, este número se soma ao
de pessoas que tiveram penas alteradas, pontua Laura Benda, presidenta da
Associação dos Juízes pela Democracia (AJD).
Para
ela, o que está em jogo com a decisão que o STF toma nesta quarta-feira (11) é
que o Estado seja efetivamente garantidor dos direitos fundamentais.
"Mas
ainda que fosse só uma. Não é por uma questão estatística ou numérica que a
gente defende isso, mas pela importância do princípio em si", afirma a
juíza, que pondera que a medida também não tem impactos para impunidade.
No ano
passado, o Brasil alcançou o terceiro lugar no ranking de países com a maior população
carcerária do mundo, com 726 mil detentos, segundo dados do Ministério da
Justiça.
As
informações são da repórter Ruth Pina
A prisão após a segunda instância não resolve o problema da lentidão da Justiça, aumenta a sobrecarga do sistema penal e os riscos de se cometer injustiças. Essa é a avaliação de especialistas ouvidos pelo BdF na semana em que o Supremo Tribunal Federal (STF) analisa o entendimento da Corte sobre o tema.
"Uma
justiça que não distingue as pessoas é uma justiça típica de estados
totalitários. A Justiça do estado democrático de direito individualiza e julga
casa processo com suas circunstâncias, com sua individualidade — e, então,
decide caso a caso se alguém deve ser preso ou não antes do julgamento final",
diz.
O debate voltou à tona após a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região em janeiro. |
Impacto
social
Simantob
também diverge do posicionamento de que prender antes do trânsito em julgado
vai aumentar a punição dos chamados crimes de colarinho branco, que envolvem
políticos e empresários em casos de corrupção.
Segundo
dados levantados pelas Defensorias Públicas de São Paulo e Rio de Janeiro, o
número de atingidos pela manutenção da condenação em segunda instância é de
aproximadamente 50 mil pessoas por ano.
"Não
há nenhum dado que estabelece nenhuma relação entre a prisão, o trânsito em
julgado e os índices de criminalidade serem diferentes. Então, me parece que a
perspectiva que deveríamos adotar é a defesa da Constituição e não cair nesta
ideia, que é falsa", diz.
Edição de Fernando Atallaia e Diego Sartorato
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