quinta-feira, 1 de março de 2018
Entidades
empresariais registram otimismo, prevendo mais negócios
em 2018
Os empresários brasileiros já viraram a página da recessão econômica após reunir todas as evidências de que dias melhores estão chegando. Indústria, comércio e construção apontam para um 2018 mais favorável, afrouxando a corda no pescoço do último triênio, confiantes de um crescimento mais significativo a partir de agora. Porém, os cidadãos comuns, em especial os 12,7 milhões de desempregados, vão demorar a se contagiar por esse otimismo. A taxa de emprego seguiu a máxima de descer de elevador, e agora sobe por uma escada longa e curvilínea, tomada de obstáculos no caminho. Em outras palavras, é a última a sentir os efeitos da recuperação.
Não há o que fazer, é essa a ordem dos fatores na economia. O que vale, neste momento, são os sinais que se multiplicam de uma inércia favorável para a retomada em todas as áreas. Uma pesquisa da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), por exemplo, aponta que 83% dos associados preveem um aumento das vendas e encomendas nesta ano, inclusive com associados desistindo de promover cortes de postos de trabalho que haviam sido planejados inicialmente.
Se por um lado o país parou de sangrar desde o final do ano passado, como mostrou o PIB divulgado nesta quinta, por outro as empresas ainda tentam superar o fosso aberto com a recessão que castigou o país por dois anos consecutivos, devorando os bons indicadores do passado – o Brasil já discutia plenos emprego entre 2011 e 2013. “A melhora já se observa há algum tempo, mas o sentimento está temperado com a cicatrização das feridas deixadas pela recessão mega, o petrolão, a turbulência política”, avalia Gustavo Franco, sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos. “Temos todas as condições para retomar. Mas ainda não é uma embarcação com as velas plenamente soltas porque as empresas ainda têm desconfiança do seu ambiente de negócio”, completa.
Criação
de empregos novos ainda demora, confirmando uma retomada a passos lentos.
Os empresários brasileiros já viraram a página da recessão econômica após reunir todas as evidências de que dias melhores estão chegando. Indústria, comércio e construção apontam para um 2018 mais favorável, afrouxando a corda no pescoço do último triênio, confiantes de um crescimento mais significativo a partir de agora. Porém, os cidadãos comuns, em especial os 12,7 milhões de desempregados, vão demorar a se contagiar por esse otimismo. A taxa de emprego seguiu a máxima de descer de elevador, e agora sobe por uma escada longa e curvilínea, tomada de obstáculos no caminho. Em outras palavras, é a última a sentir os efeitos da recuperação.
Não há o que fazer, é essa a ordem dos fatores na economia. O que vale, neste momento, são os sinais que se multiplicam de uma inércia favorável para a retomada em todas as áreas. Uma pesquisa da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), por exemplo, aponta que 83% dos associados preveem um aumento das vendas e encomendas nesta ano, inclusive com associados desistindo de promover cortes de postos de trabalho que haviam sido planejados inicialmente.
Também
um levantamento da Confederação Nacional do
Comércio
de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgado
nesta quarta, aponta que o varejo prevê
uma expansão de pontos de venda em 2018,
depois de três anos com saldo negativo. A CNC
projeta que 20.700 novos estabelecimentos comerciais serão
abertos neste ano, depois de registrar uma diminuição
de 19.300 no ano passado (saldo entre abertura e fechamento de pontos de
venda), e 226.000 lojas fechadas entre 2015 e 2016. “Estamos muito
confiantes de que a economia está
se recuperando”,
diz Fabio Bentes, economista chefe da entidade, que prevê
crescimento de 5,1% das vendas neste ano.
Já
a Câmara
Brasileira de Indústria da Construção
(CBIC) celebra o crescimento de 9,4% das vendas em 2017, com redução
de estoque de imóveis à
venda, a primeira desde o primeiro trimestre de 2016. A melhora nos últimos
meses do saldo da caderneta de poupança— que financia a
construção
— também
anima o setor. Mas ainda há muitos
percalços
no caminho, admite José Carlos Martins,
presidente da CBIC. “Temos
um grande potencial, vendemos mais em 2017, lançamos
mais e o estoque de imóveis caiu. Isso quer
dizer que no futuro, você continua vendendo,
pois o mercado sim é comprador, uma vez
que a demanda ficou reprimida por muito tempo”, diz Martins.
A reviravolta
recessiva, porém, deixou marcas. O aumento do desemprego
durante a recessão afetou não
só
as vendas de imóveis, como também
as compras financiadas que estavam em curso. O setor viveu a onda de
cancelamento de contratos, os chamados de distratos, o que travou o setor.
“Isso traumatizou os agentes financeiros, que tiveram de negociar com as
construtoras, e agora estão mais seletivos com
crédito
[para a construção]”, explica. Houve,
ainda, a diminuição dos recursos na
poupança,
que garante os recursos do setor: quem ficou desempregado precisou recorrer às
economias guardadas para se manter.
O ponto central,
neste caso, é a qualidade dos empregos que
estão
sendo gerados neste momento. Os dados do IBGE demonstram que o desemprego tem
caído
em função
dos trabalhadores sem carteira assinada (11,0 milhões
de pessoas). Entre novembro de janeiro de 2017 e deste ano, o número
de empregados nessa categoria subiu 5,6%.
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Se por um lado o país parou de sangrar desde o final do ano passado, como mostrou o PIB divulgado nesta quinta, por outro as empresas ainda tentam superar o fosso aberto com a recessão que castigou o país por dois anos consecutivos, devorando os bons indicadores do passado – o Brasil já discutia plenos emprego entre 2011 e 2013. “A melhora já se observa há algum tempo, mas o sentimento está temperado com a cicatrização das feridas deixadas pela recessão mega, o petrolão, a turbulência política”, avalia Gustavo Franco, sócio-fundador da Rio Bravo Investimentos. “Temos todas as condições para retomar. Mas ainda não é uma embarcação com as velas plenamente soltas porque as empresas ainda têm desconfiança do seu ambiente de negócio”, completa.
Só
falta o emprego
João
Saboia, professor do do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, segue a mesma linha. “Sim, de fato vamos crescer mais do que no ano
passado. A gente mal ou bem anda para frente, devagarzinho. Mas emprego é
a última
coisa a aparecer”,
avisa. Ele lembra que a referência forte de
um ano como 2010, por exemplo, quando o Brasil cresceu acima de 7% e criou 2,5
milhões
de empregos, gera uma sensação de
desalento diante do atual cenário. “Mas a queda do PIB
durante os dois anos de recessão foi
violenta... ainda que a queda da renda per capita não
tenha sido tão violenta”, diz ele. Humberto
Barbato, presidente da Abinee, admite que “emprego é
o que falta acontecer”
em seu setor, e lembra que a indústria
tem ainda 25% de capacidade ociosa. É
melhor do que há um ano, quando
chegava a 40%. Mas superar o passado traumático
ainda vai levar um bom tempo.
Segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
a taxa de desocupação no Brasil ficou em
12,2% no trimestre encerrado em janeiro (de novembro a janeiro), com 12,7 milhões
de pessoas desocupadas. O desemprego ficou maior do que o registrado no
trimestre encerrado em dezembro, quando a taxa foi de 11,8%, a segunda queda
registrada de desemprego. Essa aparente alta, na verdade, está
mais relacionada à sazonalidade do período,
lembra o professor João Saboia. Janeiro é
um mês
em que muitos trabalhadores temporários,
contratados para o período entre Natal e
ano novo, são dispensados e tradicionalmente
há
um aumento do desemprego. “Pode
até
haver um repique que se estenda a fevereiro, mas como tendência
volta a cair de novo. Certamente no final do ano o mercado de trabalho estará
melhor do que no final do ano passado”, prevê
Saboia.
O ponto central,
neste caso, é a qualidade dos empregos que
estão
sendo gerados neste momento. Os dados do IBGE demonstram que o desemprego tem
caído
em função
dos trabalhadores sem carteira assinada (11,0 milhões
de pessoas). Entre novembro de janeiro de 2017 e deste ano, o número
de empregados nessa categoria subiu 5,6%.
Subiu também
os trabalhadores por conta própria (23,2
milhões
de pessoas no total), uma alta de 4,4%, nesse mesmo período.
Isso quer dizer que quem perdeu seu trabalho decidiu empreender para driblar a
crise. Ao fim e ao cabo, hoje o trabalho informal supera o emprego com carteira
assinada, que contempla um universo de 33,3 milhões
de pessoas.
Thiago Xavier,
analista da consultoria Tendências,
ressalta que os empregadores ainda não
estão
tão
confiantes para começarem as recontratações.
“Para decidir admitir
não
basta alguns meses melhores, ainda mais para fazer uma contratação
formal, onde os custos envolvidos são
maiores. O emprego informal melhora primeiro como temos visto”, explica.
Xavier observa a
chamada taxa de subutilização da força
de trabalho, que soma o contingente de desocupados, os subocupados por insuficiência
de horas (às vezes algumas pessoas
trabalham apenas uma hora por semana) e os que fazem parte da força
de trabalho potencial. "No último
trimestre de 2017, ela ficou em 23,6%, o que representa 26,4 milhões
de pessoas. É um número
muito alto", diz. Dentro desse grupo estão
os chamados desalentados, que somaram mais 4,3 milhões
pessoas, o maior número da série
histórica
que começou
em 2012. A população desalentada é
definida como aquela que estava fora da força
de trabalho por uma das seguintes razões:
não
conseguia trabalho, ou não tinha experiência,
ou era muito jovem ou idosa, ou não
encontrou trabalho na localidade – e que, se tivesse conseguido
trabalho, estaria disponível para assumir a
vaga.
Investimento ainda não
cresce
Um fator que atrasa
a criação
de postos de trabalho é o fato de as
empresas ainda estarem se recuperando as perdas passadas, sem novos
investimentos para ampliar produção
ou renovar maquinários maciçamente.
“A crise esvaziou o
copo. Nesse período, as vendas do
varejo encolheram 20%. Agora voltamos a encher o copo, mas ele não
está
nem na metade, ou seja, estamos no estágio
de 'despiorar'”,
diz Fabio Bentes, da CNC. Humberto Barbato, presidente da Abinee, afirma que os
investimentos ainda demoram para voltar aos tempos das vacas gordas. “Neste ano o setor elétrico
e eletrônico
vai investir 1,9% do faturamento. Mas normalmente esse patamar é
de 3% a 4%”,
diz Barbato. “
Ainda estamos vulneráveis, até
pela conjuntura política do país”, avalia ele,
lembrando que o atraso em reformas, como a Previdência
e tributária,
“tira o humor” dos empresários
e aumenta a precaução.
Há
quem esteja esperando o resultado das eleições
para tirar os projetos da gaveta. Mas, outras empresas, como a Neoenergia,
decidiram manter planos de expansão
no Brasil. O grupo deve investir 20 bilhões
de reais no Brasil até 2022, o que
sinaliza a confiança no longo prazo,
segundo alguns observadores. O Brasil entra, assim, numa batalha para controlar
a ansiedade de que os tais dias melhores cheguem logo para dar início
a um ciclo mais virtuoso depois da tempestade dos últimos
anos.
A geração
de melhores postos de trabalho com carteira assinada é
uma expectativa dos próprios empresários,
como descreve uma análise do Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). “O que se espera ao longo de
2018 é
que esta forma de emprego [com carteira assinada] volte a se expandir, ajudando
a restabelecer o ciclo virtuoso da economia, já
que costuma apresentar rendimentos mais elevados e propiciar maior acesso ao crédito.” Para o setor de
construção,
o emprego formal também é
um aliado, uma vez que garante a expansão
de recursos no FGTS e aumenta os aportes da poupança.
AS INFORMAÇÕES
SÃO
DA REPÓRTER
CARLA JIMÉNEZ, DO EL PAÍS
EDIÇÃO
DA AGÊNCIA
BALUARTE
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