terça-feira, 13 de março de 2018
O mito pornô na Poesia de Fernando Atallaia

Por Ronaldo Costa Fernandes 

A força poética de Fernando Atallaia se revela por meio de um lancinante apelo a uma salvação do Ser. Os dramas internos e as tragédias do cotidiano invadem sua poesia e permanecem num vigilante estágio de alerta contra os destratos da realidade. Há um grito pungente e nervoso para que se salve dessas águas turvas. E só a poesia pode levá-lo a cais seguro. 

Sua poesia é um grito agônico contra as injustiças. Para conseguir ser salvo, o poeta não invoca deuses inacessíveis, mas a ordinária semântica da poesia e seu poder transformador. Em lugar de mitos dubitáveis, o poeta se vale de um erotismo desbordante, mas nunca vulgar. E busca penetrar nos pântanos da existência em busca da pureza escondida um xadrez em que a beleza se esconde nos itinerários das alcovas. A busca às vezes deletéria por um amor que esteja despojado das mercadorias do mundo do capital se eleva até um vislumbre que pode surgir dentro de tanto emaranhado de desfeitos: um reluzente unguento que pacifique seus demônios interiores.

Ronaldo Costa Fernandes, poeta e doutor em Literatura pela Universidade de Brasília (UnB): “Não escrevo para preencher o vazio,/mas para esvaziar-me” / Foto: Blog do autor
Ronaldo Costa Fernandes, Ensaísta, Doutor em Literatura(UnB), em análise da obra Atallaiana: ''A força poética de Fernando Atallaia se revela por meio de um lancinante apelo a uma salvação do Ser. Sua poesia é um grito agônico contra as injustiças. Para conseguir ser salvo, o poeta não invoca deuses inacessíveis, mas a ordinária semântica da poesia e seu poder transformador. Há uma voluptuosidade em buscar quase uma narratividade, o que não exclui poeticidade. Há crueza, mas há amor. Há violência, mas há lirismo. Há o perverso do mundo mecanizado, mas também perdão''. 

Ao inserir o universo do mundo pornô na sua poesia, Atallaia recoloca o exercício pleno da cidadania poética em outra plataforma: o mundo erodido e mercantilizado da pornografia e seus mitos diluem-se entre imagens deformadoras de outros corpos pouco mitificadas e derruídos por doenças e chagas. O resultado é positivo e o poeta cruza o espaço entre a sexualidade própria e a massificação erótica. Daí surge uma poesia erotizável, mas não vulgar; com denúncia ao comercial, mas sem deixar de produzir estesia. Mônica Mattos, Vivi Fernandes e Lara Stevens ingressam no universo mítico do autor e tornam-se personagens do seu imaginário. 

Fernando Atallaia, em Ode Triste para Amores Inacabados, busca figuras míticas universais, rascunha o cotidiano e entrega-se ao coloquialismo. Há uma voluptuosidade em buscar quase uma narratividade, o que não exclui poeticidade. Há crueza, mas há amor. Há violência, mas há lirismo. Há o perverso do mundo mecanizado, mas também perdão e almas dispostas que ainda pulam muros.


Ronaldo Costa Fernandes é Doutor em Literatura pela Universidade de Brasília (UnB). Ensaísta, Poeta, Romancista e Crítico Literário, ganhou, entre outros prêmios o APCA(Associação Paulista de Críticos de Arte); Casa de Las Américas e o Guimarães Rosa. Durante nove anos dirigiu o Centro de Estudos Brasileiros da Embaixada do Brasil em Caracas.

Prêmio de Poesia 2010, da Academia Brasileira de Letras, Costa Fernandes é autor das seguintes obras: O Viúvo (Ed. LGE); Manual de Tortura (Esquina da Palavra);  A Ideologia do Personagem Brasileiro (Editora UnB); A Máquina das Mãos(Ed. 7Letras), dentre muitos outros títulos.

Um comentário:

  1. Todo mundo no Maranhão e fora dele sabe que Fernando Atallaia é o maior poeta maranhense da Geração 90. Indiscutível.

    Carlos Caio-IFMA

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