quinta-feira, 1 de março de 2018
Pais que pediram dinheiro para tratamento do filho e torraram a quantia com viagens e bens de luxo são alvo de operação da polícia. “Apreendemos muito luxo da parte deles, até mesmo uma arma de brinquedo que ele usava para intimidar as pessoas que questionavam a lisura da campanha”
A Polícia Civil apreendeu,
nesta quinta-feira (1), diversos bens de luxo do casal Renato e Aline
Openkoski, pais do bebê Jonatas. A operação
ocorreu em Joinville (SC) e cumpriu mandado judicial de busca e apreensão.
O casal, que era pobre e não tinha
fonte de renda alguma, converteu parte dos milhões de reais arrecadados
para o tratamento do filho em viagens e bens de luxo (saiba mais aqui).
Segundo a polícia, foram apreendidos um
carro avaliado em R$ 140 mil e uma TV de 50 polegadas avaliada em R$ 6 mil, além de
muitos outros itens.
“Apreendemos também uma arma de brinquedo que
ele [Renato] teria usado para fazer fotos e intimidar as pessoas que estavam
questionando a lisura da campanha”, afirmou a delegada, que disse ter ouvido ao
menos quatro pessoas que foram ameaçadas por questionar o uso
do dinheiro.
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“Apreendemos o carro, uma moto, muito luxo da parte
deles, muita documentação de gastos excessivos,
alianças, relógios,
nota de compras na Colcci de 4 000 reais, perfumes, maquiagens, além de vários
objetos que foram doados durante a campanha de arrecadação de
recursos para serem leiloados ou rifados e nunca foram”, afirmou a delegada
Georgia Marrianny Gonçalves Bastos, titular da
Delegacia de Proteção à Criança,
Adolescente, Mulher e Idoso.
Agressividade
Ainda de acordo com a delegada, havia dez pessoas
na casa no momento da operação e Renato recebeu os
policiais com agressividade.
“Eles ficaram assustados e o Renato foi o que
reagiu com mais agressividade, ficou batendo no peito que o dinheiro era dele,
que ele não roubou nada. Precisamos até fazer
uma contenção”,
relata.
“Apreendemos também uma arma de brinquedo que
ele [Renato] teria usado para fazer fotos e intimidar as pessoas que estavam
questionando a lisura da campanha”, afirmou a delegada, que disse ter ouvido ao
menos quatro pessoas que foram ameaçadas por questionar o uso
do dinheiro.
O casal, que era pobre e não tinha fonte de renda alguma, converteu parte dos milhões de reais arrecadados para o tratamento do filho em viagens e bens de luxo |
Todos os objetos apreendidos agora ficam sob a
tutela da Justiça até que a
investigação seja concluída. “Essa foi uma primeira
etapa de apreensão de objetos de interesse
da investigação, pois há indícios de
que foram adquiridos por meio do dinheiro da doação”, afirmou a delegada.
Entenda
o caso
Ao saber da grave condição de saúde do
filho, Renato e Aline descobriram que os Estados Unidos haviam acabado de
aprovar uma medicação revolucionária
(Spinraza) que promete estabilizar a doença e até mesmo
recuperar movimentos perdidos em alguns casos.
O problema era o custo da medicação: 350
mil reais por ampola – são
necessárias
pelo menos seis aplicações nos dois primeiros
meses de tratamento e uma aplicação a cada quatro meses em
caráter de
manutenção.
Era preciso arrecadar pelo menos 3 milhões de
reais — e a família
iniciou então uma campanha que extrapolou as barreiras do município e
chegou até uma comunidade de brasileiros nos EUA, que
arrecadaram cerca de 40 mil dólares para ajudar no
tratamento do menino.
Os pais criaram uma página no Facebook e outra
no Instagram e fizeram rifas, bazares, pedágios, leilões,
venda de camisetas, além de receberem doações
voluntárias.
Algumas celebridades abraçaram a
causa e compartilharam em suas redes sociais o caso do menino Jonatas – entre eles os atores
Danielle Winits e André Gonçalves,
que doaram integralmente o cachê que receberiam por uma
peça de
teatro em Florianópolis, além das
apresentadoras Ana Hickmann e Eliana, que também divulgaram o caso.
Em pouco mais de dois meses, as doações
atingiram a meta. Menos de um mês depois, em maio do ano
passado, a soma ultrapassava os 4 milhões de reais.
Nessa época o bebê
continuava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital
infantil de Joinville lutando para se restabelecer de uma pneumonia e diversas
complicações de
saúde
associadas à doença.
Os
desvios
A desconfiança dos doadores de que o
dinheiro estaria sendo mal administrado pelos pais começou no
meio do ano, após a divulgação de
que a meta de 3 milhões havia sido alcançada e o
remédio do
menino ainda não havia sido comprado.
A a droga é fabricada nos EUA e
precisa ser importada, procedimento que demora pelo menos uns 40 dias. Segundo
Renato, o atraso aconteceu porque Jonatas estava internado e não tinha
condições clínicas
de receber a medicação.
Depois, os pais se mudaram de uma casa simples para
uma outra muito maior e compraram um carro avaliado em 140 mil. A mudança
repentina no padrão de vida chamou a atenção dos
doadores, já que a família era de origem
simples: antes do diagnóstico Renato trabalhava
como palestrante religioso e Aline era estudante.
Era preciso arrecadar pelo menos 3 milhões de
reais — e a família
iniciou então uma campanha que extrapolou as barreiras do município e
chegou até uma comunidade de brasileiros nos EUA, que
arrecadaram cerca de 40 mil dólares para ajudar no
tratamento do menino.
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Além disso, segundo a
promotora de Justiça Aline Boschi Moreira,
em uma audiência judicial realizada em outubro passado, havia
sido acordado que o casal prestaria conta dos recursos arrecadados e das
despesas efetuadas, sendo o valor depositado em uma conta judicial. No entanto,
isso nunca foi feito.
A gota d’água aconteceu no final do
ano, quando Renato e Aline foram passar o Ano-Novo em Fernando de Noronha, um
dos destinos turísticos mais caros do país,
deixando Jonatas em casa, sob os cuidados dos avós paternos. O casal
postou várias
fotos da viagem na internet, inclusive com celebridades como Neymar, Bruno
Gagliasso e Paula Fernandes.
A viagem chamou a atenção dos
doadores, que criaram uma página no Facebook chamando
o casal de fraude e levaram o caso ao Ministério Público.
Em 16 de janeiro a Justiça determinou o bloqueio
das três
contas do casal.
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