quinta-feira, 1 de março de 2018
Memória
Bairro da cidade de São Paulo
protagonizou maior greve da história
sindical brasileira
Moradores do bairro de Perus, na região noroeste da cidade
de São Paulo,
lutam para preservar a história da primeira grande
greve do movimento sindical brasileiro. Iniciada em 1962, a paralisação
durou sete anos e foi uma resposta de 3,5 mil operários
- conhecidos como Queixadas - ao não cumprimento de
direitos trabalhistas por parte dos proprietários da Fábrica de Cimento Portland Perus.
Em 1992, o prédio da antiga fábrica foi tombado como patrimônio
histórico
da cidade de São Paulo e, desde então, sofre com a
deterioração. O impasse vem sendo discutido pelos coletivos e movimentos do
bairro com o objetivo de ressignificar o espaço e
transformá-lo em um Centro de Lazer, Cultura e Memória
do Trabalhador.
Entre os dias 17 e 25 de fevereiro, diversas discussões e
atividades culturais ocorreram no bairro para celebrar a resistência
local e articular a construção do Centro de Memória. Para Regina Bortoto, neta de queixada e uma
das articuladoras do Movimento pela Reapropriação
da Fábrica de
Cimento de
Perus, esta iniciativa representaria um marco no processo de
construção da
história
dos trabalhadores da região.
Ato Artístico do Coletivo Cimento Perus |
"Quando você propõe estabelecer a memória,
normalmente quem escolhe é quem tem o poder para selecionar essa memória e
nunca é o
trabalhador. A importância de um lugar onde o trabalhador possa falar das suas histórias e memórias
seria como uma inversão [dessa condição]. Essa história não
pode ficar só para quem vivenciou, ela tem que ser transmitida
para as gerações futuras", afirma.
Em 2016, o Grupo
Pandora de Teatro já havia organizado a Ocupação
Artística Canhoba com
o intuito de resgatar a história dos Queixadas
através da
arte e cultura. Uma das idealizadoras da ocupação, Caroline Alves reforça a importância
de um ponto de cultura com histórias e memórias do bairro, o que
ela define como "um espaço convidativo para a população
periférica
se apropriar e ser protagonista".
Memória viva
Sebastião Silva de Souza, 84 anos, trabalhou na Fábrica de Cimento e foi um dos Queixadas. Seu Tião,
como é
conhecido, relembra que o interesse dos proprietários era só "produção e lucro"
e que a greve foi a única maneira de lutar por melhores condições de
trabalho. "Há necessidade de que o trabalhador seja reconhecido
como gente, porque ele ajuda e não deve obrigação
nenhuma ao patrão. Ele faz uma permuta: dá o
trabalho e recebe um salário por isso e nem sempre é um
salário
compensador".
Criada em 1926, a fábrica de Perus foi a primeira indústria
cimenteira de grande porte do Brasil. Após o fim da greve dos sete anos, em 1969, os
Queixadas receberam os salários atrasados e tiveram o direito de voltar ao
trabalho. As fraudes do antigo proprietário José João Abdalla levaram a fábrica à falência.
"Perus é um bairro que a luta existe a todo instante. A
gente não
descansa, tem sempre que estar pensando em se defender de alguma maneira",
afirma Seu Tião.
Para a história dos Queixadas não ser esquecida, o
Movimento pela Reapropriação da Fábrica de Cimento de
Perus acaba de lançar folheto sobre a resistência dos trabalhadores grevistas que será distribuído em escolas da região. Como afirma Caroline
Alves:
"Para resumir em uma frase eu diria um dos provérbios
dos Queixadas, que é a firmeza permanente, o significado dele é você se
manter na luta, mas nunca usar isso de forma violenta".
As informações são da repórter Emilly
Dulce
Edição de Thalles Gomes
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