segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018
17:16
| Postado por
Equipe Baluarte
|
A contundente e sonora Poesia de Fernando Atallaia
Atualmente, é professor da Faculdade de Medicina e do mestrado de Saúde
Coletiva da ULBRA e da Fundação Universitária Mário Martins.
Por Celso Gutfreind |
Fernando Atallaia sabe que o bom poema é obra rara e já não luta contra
isto. Luta com isso, o que é bem diferente e instaura a sua diferença. Seu
conteúdo vem da vida e a forma de dizê-lo nasce de uma estranha mistura do que
já foi poetado e de uma fala nova, original. Atallaia não desiste dela. Quem
lê “Ode Triste para Amores Inacabados”
sente a pegada. Um Pessoa aqui na filosofia de um Caeiro sorumbático, um
Drummond ali na persona humorada e expressiva do próprio Fernando. Mas o leque
vem dos séculos: é possível voltar e topar com a angústia sensual de um Cruz e
Souza que não sossega enquanto o desejo não vira imagem aberta. Ou avançar e
encontrar a eficácia de uma Hilda Hilst além da genealogia de qualquer moral.
Não é moral, tampouco preceito, prescrição, filosofia. É canção dizendo, poema
cantando; logo, já não é isto ou aquilo.
Fernando Atallaia oferece poesia, a sua poesia, esta que veio da música
e, depurada pela vida, tenta reencontrá-la. ‘’Poesia que busca seus compêndios
em ruas inexistentes’’, mas topa o barulho de encontros e desencontros para
encontrar o próprio silêncio: ‘’Toda a poesia tem o seu silêncio’’, canta-nos
Fernando. Entre temas que vão de dentro do próprio poema ao pátio dele em busca
do amor entorno, o conteúdo não esconde a verve amorosa, erótica. Todavia, o
resultado temático importa menos. Sem pressa para encontrar o seu serralho nem
ânsia para sentir a parte que lhe cabe neste latifúndio, Fernando Atallaia não briga com a
imperfeição e a incompletude. Sua ode, embora triste e inacabada, ama assim
mesmo. Ama o que dá. Ama o que pode. Ama de muletas.
O sentido agora já não manda mais. A poesia de Atallaia é leitora da
poesia do mundo, mas corre pelas mãos pessoais do músico. Veio da melodia e a
ela volta para transcender o próprio assunto. Basta folhear, escutando.
Celso Gutfreind Nasceu em Porto Alegre, em 1963. Tem 26 livros publicados, entre poesia e
histórias infantis. Textos traduzidos para o espanhol, francês e inglês.
Foi escritor convidado da Ledig House,
em Omi (EUA), em 1996. Colabora na imprensa, assiduamente, sobretudo com crônicas.
Como médico e psicanalista, Gutfreind especializou-se em Medicina Geral Comunitária
(Hospital Nossa Senhora da Conceição), Psiquiatria (Fundação Mário Martins e
Associação Brasileira de Psiquiatria) e Psiquiatria Infantil (Universidade
Paris V). Realizou na França doutorado em Psicologia Clínica (Universidade Paris
XIII) e pós-doutorado em Psiquiatria Infantil, no grupo hospitalar
Pitié-Salpetrière, da Universidade Paris VI.
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