segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018
22:48
| Postado por
Equipe Baluarte
|
Depois de muita pressão de meios de comunicação independentes, familiares e entidades, ex-deputado que matou 2 jovens no trânsito vai a júri popular. Caso era acobertado pela grande mídia e judiciário. Mãe de vítima segue inconsolável: ''Terei de provar a inocência do meu filho?''
Nove anos depois de matar dois jovens no trânsito, o ex-deputado estadual Luiz Fernando Ribas Carli Filho, herdeiro de uma influente família da política no Paraná, vai a júri popular.
A tragédia que tirou a vida de Carlos Murilo, de 19
anos, e Gilmar Rafael Yared, de 26, aconteceu em 7 de maio de 2009. A
perícia concluiu que Carli Filho estava a uma velocidade entre 161 e 173
km/h. O carro em que ele estava decolou e caiu sobre o veículo das
vítimas.
Carli Filho estava com a carteira de motorista
suspensa, com 130 pontos e 30 multas, a maioria por excesso de
velocidade, e também apresentava teor alcoólico quatro vezes além do
tolerado. No único depoimento que deu à Justiça, em 2010, ele assumiu
que bebeu antes de dirigir.
O julgamento terá início nesta terça-feira (27/2) e
deve se estender pela semana. A acusação pede pena de até 30 anos de
prisão. A defesa tenta transformar a denúncia em homicídio culposo
(quando não há intenção) e se valer de uma eventual prescrição do crime.
O ex-deputado Luiz Fernando Ribas Carli Filho tinha 25 anos na época do acidente |
Nos últimos nove anos, a defesa do acusado impetrou
35 recursos e conseguiu adiar o julgamento duas vezes – uma por decisão
do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e outra por determinação do
ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF).
“É quase uma afronta à Justiça. Um bom escritório
de advocacia vai até onde as leis e suas brechas permitem. Mas, agora,
com a marcação do júri, eles não têm para onde sair. Vão ter de prestar
contas. A sociedade pede que seja prestada conta de tudo isso. Essa luta
não diz respeito somente a mim, mas ao país”, ressaltou Christiane
Souza Yared, cujo filho, Gilmar, perdeu a vida na tragédia.
Depois da morte do filho, Christiane criou uma
organização não-governamental de apoio a famílias que sofrem com a perda
de seus entes em acidentes e de educação para a paz no trânsito. Em
2014, com 200 mil votos, surpreendeu ao ser eleita a deputada de maior
votação na bancada do Paraná.
A caminho do fim de seu primeiro mandato, a
parlamentar paranaense do PR já viu dois de seus projetos virarem leis,
ambas voltadas para o trânsito e vê, com esperança, a possibilidade de o
responsável pelo desastre que matou seu filho ser, enfim, punido pela
Justiça.
Para Christiane, o julgamento não é apenas do
ex-deputado Carli Filho. É também seu e de seu filho. E, mais do que
isso, um divisor de águas na questão da impunidade no trânsito.
“Se ele for inocentado, certamente entrará com um
processo indenizatório contra mim. Vão querer que eu pague a plástica
dele, o carro destruído dele, a exposição dele à mídia”, disse, em
entrevista ao site Congresso em Foco.
“Tenho que provar que meu filho é inocente? Vivemos
um pesadelo todos esses anos. Esse pesadelo continuará até o fim de
nossas vidas. Não temos como nos livrar disso. Meu filho não tinha uma
gota de álcool no sangue, estava engatando a segunda marcha, estava de
cinco de segurança, com a carteira em dia. Vamos por tudo isso numa
balança?”
Christiane conta que pessoas ligadas à família
Carli tentam jogar a opinião pública contra ela, acusando-a de ter se
promovido na política à custa da morte do filho.
“E ainda tentam me colocar no banco dos réus como
se eu fosse julgada por estar deputada federal. Comentam na mídia local
que a mãe de uma das vítimas, no caso eu, teria se beneficiado da morte
do filho, do cadáver do filho, saindo na política e sendo deputada. Como
se eu pedisse para isso acontecer. Então, numa noite, sai um jovem que
vai beber, vai matar meu filho para eu me candidatar a deputada federal?
Daria tudo para ter meu filho de volta”, desabafou.
“Hoje sou uma voz no Congresso. Luto por vidas. Algumas pessoas não compreendem”, finalizou.
AS INFORMAÇÕES SÃO DO PRAGMATISMO
EDIÇÃO DA AGÊNCIA BALUARTE
Assinar:
Postar comentários
(Atom)
0 comentários:
Postar um comentário