quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018
Pré-candidatos
à Presidência disputam o segundo lugar em um cenário sem o ex-presidente Lula e
tentam driblar o apresentador Luciano Huck
Embora o
PT insista em manter o ex-presidente Lula como pré-candidato à presidência, o
petista está cada vez mais longe da disputa, depois de condenado em segunda
instância pelo TRF4. E sem seu nome entre os pré-candidatos, o cenário
eleitoral fica ainda mais incerto. Segundo a última pesquisa Datafolha,
disputam o segundo lugar a ex-senadora Marina Silva (Rede), o governador de São
Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) e o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT).
Todos, atrás de Jair Bolsonaro (PSC), que lidera o pleito sem o ex-presidente petista
no páreo.
Embolados,
os três pré-candidatos terão que correr para passar na frente não somente um do
outro, como de dois outros potenciais grandes adversários: o surgimento de um
outsider, que pode se materializar na figura do apresentador Luciano Huck, por
enquanto sem partido, e a rejeição da população à classe política. Sem Lula,
até um terço dos brasileiros dispensa qualquer outro candidato e prefere anular
ou votar em branco, aponta a mesma pesquisa.
A briga
é grande não só pela herança de votos de Lula mas também diante de um
eleitorado cada vez mais refratário aos nomes da política atual. Pesquisa feita
pelo instituto Locomotiva revela que 93% da população acha que é preciso formar
novas lideranças políticas para mudar o país e 96% dizem não se sentir
representada por nenhum político em exercício. Neste aspecto, tem razão Marina
Silva quando diz que “o adversário mais forte é o descrédito que a população
está colocando na política”, em entrevista ao programa Canal Livre, da Band, na
última segunda-feira.
Ciro Gomes, por sua vez, refuta as críticas a seu estilo pessoal e cerca-se de cuidados para evitar embates com lulistas. Para alguns analistas, ele é quem mais tem... |
Neste
vácuo político, cada um dos três pré-candidatos elegem suas estratégias para
sair na frente. Marina Silva adota o discurso da coerência, afirmando
incansavelmente que é "a mesma desde 2010”, lembrando que não está
envolvida em nenhum caso de corrupção e evitando apontar o dedo para possíveis
adversários. Defende que a justiça seja feita “para todos”, mas que Lula tem o
direito de recorrer a todas as instâncias com recursos que lhe são permitidos.
E se diz a candidata que combaterá o ódio "com amor". Coincidência ou
não, na sequência em que a pesquisa Datafolha foi publicada, a ambientalista
deu início a uma maratona de entrevistas a jornalistas. Marina não esconde sua
contrariedade ao desenrolar do debate sobre a reforma da Previdência durante o
Governo Temer, que, segundo ela “fala somente com os empregadores, e não com os
trabalhadores”.
Nesse
mesmo sentido, Ciro Gomes também faz críticas diretas à reforma de Temer, e ao
crescente desemprego. Tanto Ciro como Marina têm pela frente o trabalho contra
o 'estigma' que os persegue em suas campanhas políticas. . Ciro, por um
supostamente ter um gênio intempestivo, enquanto a pré-candidata da Rede é tida
como indecisa e com viés conservador, sempre a raiz de sua religião,
evangélica, que poderia contaminar seu governo, na visão de quem a teme. “ Não
imagino que depois de tanta luta para que tivéssemos um estado laico, iríamos
reeditar a ideia de um Estado teocrático”, disse Marina à jornalista Carla Jiménez,
do EL PAÍS. “Fui militante das causas ambientais, da educação, de direitos
humanos, causa indígenas ”, lembrou. Seu desafio, no entanto, é fazer chegar
essa mensagem para além dos 20 milhões de eleitores que ela conquistou na
última eleição. Com pouco tempo de TV e um fundo partidário de 280.000 reais, a
Rede agora conversa com os mesmos partidos da coligação que a acompanhou em
2014 para compor o programa.
Já Geraldo Alckmin pode se beneficiar por ser o único, entre os três, a ter um partido maior por trás, o que lhe garante maior tempo de televisão e mais verba partidária para a campanha. |
Ciro
Gomes, por sua vez, refuta as críticas a seu estilo pessoal e cerca-se de
cuidados para evitar embates com lulistas. Para alguns analistas, ele é quem
mais tem poder para se beneficiar da ausência de Lula no Nordeste, região que
tem a maior preferência do petista (60%). Em um cenário sem o ex-presidente
Ciro pode crescer na região onde já foi governador, e teria chances reais de
herdar votos de Lula. A campanha do pedetista tem trabalhado para divulgar
vídeos com as falas de Bolsonaro em relação a mulheres e às minorias para
apontar seu perfil mais agressivo.
Já
Geraldo Alckmin pode se beneficiar por ser o único, entre os três, a ter um
partido maior por trás, o que lhe garante maior tempo de televisão e mais verba
partidária para a campanha. Ao mesmo tempo, porém, o PSDB pode ser o maior
trunfo ou o pior problema para o governador paulista. Após cotoveladas com seu
afilhado político, o prefeito de São Paulo João Doria, Alckmin segue disputando
espaço dentro do partido. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acena,
constantemente, para uma possível candidatura do apresentador Luciano Huck. “Seria
boa para o Brasil”, disse o ex-presidente em entrevista à Jovem Pan, uma das
rádios mais populares do país, apontando uma manobra que ainda se tenta
decifrar.
Fora do
ninho tucano, Alckmin ainda tem outra batalha, a das alianças. Seu vice, Marcio
França (PSB), já anunciou que será candidato no âmbito estadual. o que pode
colocar em xeque a união dos dois partidos na campanha majoritária. Sem
alianças fortes, o precioso tempo na TV fica mais curto. Por isso, PSDB e
o MDB, de Michel Temer, estão flertando. Neste caso, o apoio do MDB pode ser
bem-vindo, por garantir o maior tempo na televisão de toda a campanha, e uma
fatia mais encorpada do fundo partidário. Mas pode ser também um tiro no pé, já
que 87% dos brasileiros não votariam em um candidato a presidente apoiado por
Temer, segundo o Datafolha.
Embolados, os três pré-candidatos terão que correr para passar na frente não somente um do outro, como de dois outros potenciais grandes adversários: o surgimento de um outsider, que pode se materializar na figura do apresentador Luciano Huck. |
Além
disso, para uma aliança entre PSDB e o MDB, o partido do presidente da
República teria de abrir mão de seus possíveis candidatos: o presidente da
Câmara, Rodrigo Maia, ou o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e até mesmo
o próprio Temer, que vem confessando seu desejo de entrar na disputa.
Enquanto
as peças se movem lentamente, Alckmin usa as redes sociais para promover seu
governo e se dizer "preparado para o Brasil". Mas, assim como seus
adversários, o governador evita debater propostas concretas por enquanto.
Para
André Torretta, marqueteiro político da Cambridge Analytica Ponte, vai sair na
frente justamente o candidato que tratar de temas palpáveis para o eleitor.
“Ninguém está falando de segurança pública e desemprego”, diz. “O projeto dos
partidos para diminuir o desemprego qual é? Para melhorar a segurança do país,
qual é?”. Na opinião de Torretta, por enquanto, apenas Lula está falando com a população.
“Enquanto a direita discute se o Estado é pequeno ou grande, o outro [Lula]
está viajando e abraçando a população”. Ele se refere às caravanas realizadas
pelo petista desde o ano passado.
De
acordo com Torretta, a quantidade de pré-candidatos ainda não está definida,
embora os partidos cravem que todos estão na jogada. “É preciso ver quanto tem
de verba de fundo partidário para todos esses partidos e ver se haverá dinheiro
para uma campanha nacional”, diz Torretta. “Aí sim será possível saber se
haverá essa quantidade toda de candidatos”.
Nem
mesmo a retirada da candidatura de Luciano Huck pode ser vista como certa.
Ainda que o global tenha afirmado, no fim do ano, que estava fora da disputa, o jornal apurou que, mesmo após sua retirada do tabuleiro, ele segue monitorando
as pesquisas e acompanha de perto as movimentações na corrida eleitoral.
Enquanto
as peças deste xadrez ainda não se posicionam de uma maneira clara, o relógio
corre para o cenário econômico. A Moody’s, agência de classificação de risco,
emitiu um comunicado na semana passada afirmando que as próximas eleições na
América Latina “apresentam riscos para as reformas fiscais e estruturais na
região”. Isso porque, segundo a agência, “os novos governantes podem estar
menos interessados em prosseguir com os programas ambiciosos de reformas, após
vários anos de crescimento fraco”. Ainda que o compromisso seja mantido, segue
a Moody’s, a implementação dessas reformas pode ser dificultada pela falta de
apoio político. Algo que o presidente e, quem sabe, pré-candidato, Michel Temer
está vivendo na pele com a reforma da Previdência.
AS
INFORMAÇÕES SÃO DA REPÓRTER MARINA ROSSI, DO EL PAÍS
EDIÇÃO
DA AGÊNCIA BALUARTE
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