quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018
Especialistas alegam uma série de falácias
discursivas e manipulações nas publicidades e entrevistas do governo
Nos últimos meses, o governo tem investido muito dinheiro e esforço em propagandas pela aprovação da reforma da Previdência, com o objetivo de convencer a sociedade brasileira de sua necessidade e supostos benefícios.
No entanto, o discurso utilizado tanto
pelo presidente golpista quanto pela publicidade nas redes sociais e no site do
Planalto, traz afirmações consideradas falsas por especialistas e militantes de
movimentos populares que se opõem à reforma da Previdência. O BdF entrou em
contato com essas pessoas e buscou entender quais as principais críticas aos
argumentos que têm sido apresentados.
Uma das principais linhas discursivas do
governo é a de que a reforma da Previdência trará maior igualdade social, uma
vez que supostamente combateria os privilégios previdenciários dos mais ricos.
Uma série de imagens, trazendo fotografias de
pessoas que representariam trabalhadores e frases como "o fim dos
privilégios, ou fim das aposentadorias", estão sendo publicadas na
internet pelo governo. Em um site
oficial da reforma, criado pelo governo, é possível ainda encontrar a
seguinte informação: "Os privilegiados estão espalhando boatos para manter
os privilégios. (…) A nova lei para aposentadoria não retira direitos, pelo
contrário: ela promove igualdade".
As afirmações dizem respeito ao fim de
especificidades na aposentadoria do funcionalismo público. Com a reforma, as
categorias só poderiam receber a integralidade da aposentadoria alcançando a
idade mínima de 62 anos para mulheres, e 65 anos para homens. No entanto,
o tom dado pelo governo, de que a diferença entre o regime geral e o regime
público de aposentadoria é causa importante da injustiça social no país, é
amplamente criticado.
Para o presidente da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, existem sim privilégios para categorias no
funcionalismo público, mas as regras específicas da Previdência não faz parte
deles.
"O governo fala como se todo trabalhador
funcionário público recebesse salários abusivos, sendo que a grande maioria tem
salários baixos. Essa aposentadoria diferenciada vem para proteger os
trabalhadores para que ele venha prestar serviço de qualidade para o Estado,
para atender corretamente a população. Não é uma mordomia. Ele dá a impressão
que todo mundo que trabalha em um posto do INSS é marajá, e não é, como parte
do Ministério Público que recebe auxílio moradia mesmo tendo moradia. Essa
é a diferenciação que temos que fazer", apontou.
Vagner destaca ainda o impacto dos
“privilégios” concedidos à iniciativa privada, quando não há a tributação
correta da Previdência dos trabalhadores. "O empresariado sonega
e não paga. Você tem uma lista de empresas devedoras da Previdência enorme,
outras são sonegadoras, que não repassam para a Previdência o que descontam dos
trabalhadores. Por isso, a CUT sempre fala que uma reforma da Previdência
é realmente necessária, mas o que estão fazendo não tem nada a ver com
isso", afirmou.
2 - Previdência "abocanha" orçamento
e faz governo economizar em direitos
"A campanha que o governo vem utilizando
é mentirosa. O governo faz um terrorismo para justificar a reforma, que
vem no sentido de diminuição de direitos, dizendo que a Previdência está
quebrada, mas ela não está quebrada, não está falida", afirmou.
De acordo com de Sá, a forma como o governo calcula os gastos com a Previdência considera também outros dois pontos do tripé da Seguridade Social: a assistência social e a área da saúde. Paralelamente, as contas não incluem parte das arrecadações de outras fontes orçamentárias que deveriam ser revertidas para o Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS), como o Cofins, contribuição calculada sobre a receita bruta das empresas.
Em paralelo, para Vagner Freitas, a ideia de
que o governo investiria o dinheiro economizado com a Previdência em áreas
sociais também é mentirosa, tendo em vista o congelamento dos investimentos
pelos próximos vinte anos aprovado pelo governo Temer no final de 2016.
"Se quisessem investir em saúde e
educação, não teriam estabelecido um teto de investimento do Estado nesses
setores que são os mais importantes. Quando esse governo faz o
planejamento dos recursos da união, ele já deixa claro que não tem como
prioridade a saúde e educação a partir do momento que trata como
gasto e não como investimento", disse.
A justificativa principal do governo para
a reforma da Previdência é um suposto rombo que se aproximaria dos R$ 300
bilhões. De acordo com o site oficial do governo, o déficit na Previdência já
representa 9,9% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, e, com o
envelhecimento da população, se acentua anualmente.
De acordo com a professora do Instituto de
Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Esther Dweck, que
escreveu um artigo ao BdF sobre o tema, o discurso sobre o déficit é
"falacioso".
"O regime geral de previdência social
(RGPS) e os benefícios assistenciais têm reconhecido efeito distributivo e de
garantia de uma renda estável, ao longo de toda a vida, para grande parte da
população brasileira. A Previdência se encontra relativamente equilibrada.
Enquanto a economia cresce, as receitas da seguridade cresciam mais do que as
despesas, principalmente entre 2006 e 2013", afirmou.
Em relação ao envelhecimento da população,
Dweck destaca: "Até 2030, o Brasil estará vivendo o chamado “boom
demográfico” com a menor razão de dependência, a população em idade ativa será
muito superior à população de crianças e idosos, o que não demandaria qualquer
alteração
De acordo com os dados da Anfip divulgados em
2015 sobre a Seguridade Social, somando-se às despesas de benefícios
previdenciários as contribuições previdenciárias, que tem boa parte de suas
receitas não contabilizadas nos dados divulgados pelo governo, temos um saldo
superavitário de R$11 bilhões.
No site da reforma da Previdência, o governo
garante que o novo texto, de relatoria do deputado Arthur Maia (PPS-BA),
mantém os direitos dos trabalhadores rurais. "A nova lei para
aposentadoria tem como um de seus pontos mais essenciais a proteção para quem
trabalha na agricultura e na pecuária", diz o site.
Para o dirigente nacional do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Teto (MST) Gilmar Mauro, no entanto, os direitos
dos trabalhadores rurais continuam ameaçados, mesmo com a manutenção da
aposentadoria rural na reforma. "Os camponeses são uma parte dessa classe
trabalhadora, mas os filhos dos camponeses, a juventude que hoje estuda, vai
para muitas outras categorias. Então a juventude das pessoas, seja do campo ou
da cidade, estará completamente comprometido se essa reforma passar",
afirmou.
O dirigente completa ainda que o MST
continuará mobilizado contra a reforma, também em apoio às demais categorias
afetadas. "A questão que está colocada é que a reforma da Previdência
interessa ao capital financeiro, que tem empresas de Previdência privada, para
usar os recursos do povo brasileiro em benefício próprio. Então não se trata de
uma categoria específica, é uma luta da classe trabalhadora, derrotar a reforma
da Previdência é fundamental para a garantia de direitos da população
brasileira", afirmou.
5 - "A população está sendo convencida da
necessidade da reforma"
As afirmações do presidente não condizem com
as pesquisas de opinião realizadas ao longo do ano. Em maio de 2017, uma
sondagem divulgada pelo Datafolha mostrou que 7 em cada 10 brasileiros se
diziam contrários à reforma. Já em dezembro de 2017, um
levantamento realizado pela empresa MindMiners mostrou que 68,7% das
pessoas eram contrárias à versão atualizada da reforma, e 18,8% não
souberam opinar.
Em paralelo, a popularidade do governo Temer
continua a mais baixa da história do país, tendo alcançado 3% de aprovação em
setembro de 2017, de acordo com a pesquisa do CNI-Ibope. Já um levantamento do
grupo Eurasia, especializado em análise de risco para investidores, colocou o
emedebista como campeão em rejeição entre os líderes do mundo todo, com apenas
7% de aprovação.
AS INFORMAÇÕES SÃO DO BDF
Nos últimos meses, o governo tem investido muito dinheiro e esforço em propagandas pela aprovação da reforma da Previdência, com o objetivo de convencer a sociedade brasileira de sua necessidade e supostos benefícios.
A Secretaria Especial Comunicação Social
(Secom) do governo divulgou, neste mês, que já foram gastos mais de 103 milhões
em campanhas publicitárias com esse intuito. Já Michel Temer (MDB), tem
participado, ao longo do mês, de uma série de programas de televisão e
entrevistas com o objetivo de defender a medida.
Propagandas do governo espalham inverdades sobre a Seguridade Social
no país
1 - A Reforma da Previdência vai "igualar
as pessoas"
A ideia de que a Previdência é um dos maiores
"gastos" do governo e de que isso está por trás da falta de
orçamento para áreas sociais também vem sendo amplamente divulgada por
Temer. "Além de criar um grupo de privilegiados, isso faz a Previdência
abocanhar a maior parte do orçamento, impedindo o governo de aumentar os
investimentos em educação, segurança, saúde e em outras áreas também
importantes para a vida do brasileiro", diz o site oficial da reforma.
As afirmações do presidente não condizem com as pesquisas de opinião realizadas ao longo do ano. Em maio de 2017, uma sondagem divulgada pelo Datafolha mostrou que 7 em cada 10 brasileiros se diziam contrários à reforma. |
Em entrevista ao Programa de Silvio Santos no
final de janeiro, Temer afirmou que caso não haja a reforma, o Brasil vai
sofrer os mesmos cortes de orçamento que vitimou países como a Grécia. Para o
presidente da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal
(Anfip), Floriano Martins de Sá Neto, a conta divulgada pelo governo não atende
os procedimentos determinados pela Constituição Federal.
De acordo com de Sá, a forma como o governo calcula os gastos com a Previdência considera também outros dois pontos do tripé da Seguridade Social: a assistência social e a área da saúde. Paralelamente, as contas não incluem parte das arrecadações de outras fontes orçamentárias que deveriam ser revertidas para o Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS), como o Cofins, contribuição calculada sobre a receita bruta das empresas.
3 - Rombo na Previdência
durante esse período por questões
demográficas".
4 - Aposentadoria rural não será mais
prejudicada
Um dos temas mais polêmicos do antigo projeto
de reforma da Previdência era o fim das especificidades da aposentadoria rural.
Os trabalhadores rurais têm uma redução de cinco anos na idade mínima de suas
aposentadorias, devido aos riscos e características próprias da profissão.
Houve diversas tentativas de votar a reforma
da Previdência ao longo de 2017, que acabaram sendo adiadas pelo governo por
conta da baixa popularidade do tema. Em entrevista ao programa da jornalista
Mariana Godoy, realizada nesta segunda-feira (5), no entanto, Temer destacou
que acredita que a reforma da Previdência será aprovada, pois está ocorrendo um
"convencimento popular da invencibilidade da Reforma", e de sua
necessidade.
EDIÇÃO DE FERNANDO ATALLAIA E VANESSA MARTINA
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