terça-feira, 20 de fevereiro de 2018
Dez países da região têm
penitenciárias que superam sua capacidade em 200%
As prisões da América Latina
enfrentam uma situação crítica em matéria de aglomeração e superpopulação, o
que provoca a saturação dos serviços que oferecem aos presos, especialmente a
assistência à saúde, segundo um informe da Federação Iberoamericana de
Ombudsman (FIO), uma organização que reúne 20 defensorias públicas,
procuradorias e comissões de direitos humanos. Até dez países contam com
prisões que superam sua capacidade em 200%.
A entidade enfatiza que a crise na
qual estão imersos os sistemas penitenciários da região atenta contra a
segurança das prisões e viola os direitos humanos dos presos e do pessoal. A
aglomeração e a superpopulação provocam aumento da violência, saturação dos
serviços de saúde e desgaste da convivência entre os presos, entre outros efeitos.
Superam sua capacidade em 200%. |
Além disso, entre os dez países
cujas prisões são as mais povoadas do mundo, há quatro latino-americanos. O
Haiti encabeça a lista, com uma taxa de ocupação carcerária de 416%. Seguem-se
El Salvador, em quarto lugar, com 320% de superpopulação; Venezuela (270%) em
sétimo; e Bolívia (256%) em oitavo, segundo dados do Centro Internacional de
Estudos Penitenciários da Universidade de Essex (ICPS). A superpopulação no
Paraguai atinge 131%, mas em seu principal centro, a Penitenciária Nacional de
Tacumbú, essa cifra pula para 333%, segundo informes da Defensoria Pública
desse país.
Porto Rico é um dos poucos casos
na região em que as prisões não estão superpovoadas. Segundo o informe da FIO,
os baixos níveis de aglomeração —88%, cifra similar às de Espanha e Alemanha,
por exemplo—, se devem a investimentos realizados em infraestrutura no sistema
penitenciário do país.
Entre os países onde há um cuidado
inadequado à saúde se destacam Colômbia, Bolívia, Uruguai e Nicarágua. A
maioria das denúncias registradas pelas defensorias do Panamá e da Costa Rica
também se refere à falta de cuidados médicos. O problema se deve, em parte, ao
número insuficiente de profissionais. Em vários centros penais desses países é
necessário levar os presos ao centro médico mais próximo, de modo que com
frequência eles perdem as consultas devido à falta de transporte e de pessoal
de custódia.
A entidade enfatiza que a crise na qual estão imersos os sistemas penitenciários da região atenta contra a segurança das prisões e viola os direitos humanos dos presos e do pessoal. A aglomeração e a superpopulação provocam aumento da violência, saturação dos serviços de saúde e... |
A dificuldade de acesso ao serviço
médico é acompanhada de outros problemas: a insalubridade das celas e das
instalações, as más condições de higiene e uma alimentação inadequada, que
fazem das prisões ambientes propícios à proliferação de epidemias e doenças.
O Brasil ocupa o posto 35 na lista
dos maiores índices de superpopulação carcerária, com 172%. O país tem, no
entanto, a quarta população penitenciária do mundo: cerca de 548.000 presos,
enquanto a capacidade dos centros de detenção não ultrapassa os 319.000. Quase
metade das prisões do país não têm cama para todos os reclusos, e em um quarto
delas não há colchão para todos. O banho é de água fria em 66% das prisões, e
em 40% delas não se oferecem artigos de higiene pessoal, segundo a Procuradoria
dos Direitos do Cidadão.
O Paraguai, além do Brasil, se destaca do conjunto pelo excessivo uso da prisão preventiva: 6691 dos 9229 presos do país (ou 72,5%) estão nessa situação. |
Cerca de 40% dos reclusos no
Brasil estão em prisão preventiva, segundo constatou o Grupo de Trabalho das
Nações Unidas sobre Detenção Arbitrária, que visitou várias prisões do país em
2013 e registrou suas impressões em um informe. “Existe uma cultura do uso da
privação de liberdade como norma e não como uma medida excepcional reservada
para delitos graves, conforme exigem as normas internacionais de direitos
humanos”, afirmou depois da visita Roberto Garretón, um dos membros do grupo.
Os especialistas expressaram
preocupação pela falta de assistência jurídica aos detidos, o que é ainda mais
grave “em um país onde a maioria dos presos é pobre e não pode pagar um
advogado”, afirmou Garretón. O grupo encontrou inúmeros casos em que os presos
tiveram de esperar meses ou mesmo anos para ir a julgamento e descobrir quais
eram as acusações contra eles.
O Paraguai, além do Brasil, se
destaca do conjunto pelo excessivo uso da prisão preventiva: 6691 dos 9229
presos do país (ou 72,5%) estão nessa situação.
As entidades da FIO recomendam às
autoridades implicadas fazer “uso racional da prisão preventiva”; construir
novos centros penais e ampliar a infraestrutura existente; incentivar medidas
alternativas à reclusão para os delitos menos graves, e melhorar a qualificação
dos agentes da Justiça, entre outras sugestões.
AS INFORMAÇÕES SÃO DA REPÓRTER
DANIELE BELMIRO, DO EL PAÍS
EDIÇÃO DE FERNANDO ATALLAIA
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