sábado, 17 de fevereiro de 2018

Poeta e profeta do povo, bispo emérito se tornou referência na luta pelos direitos humanos no Araguaia (MT)

Essa é uma das poesias de protesto escrita pelo bispo Dom Pedro Casaldáliga. Os versos rimam com a vida do militante cristão, que ficou conhecido pela defesa dos direitos dos mais pobres na região de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso.

Quem conviveu com o missionário destaca a importância de sua luta pela vida, pelos bens comuns e pela democracia, como é o caso de Antônio Canuto, membro fundador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que viveu ao lado do bispo na região amazônica. "Pedro é um homem de uma profunda sensibilidade humana, por isso ele é um grande poeta e um grande profeta. Essa sensibilidade se traduz em poesia, em denúncias e nas diversas formas de manifestar a sua contrariedade às injustiças e todas as formas de exploração que existem."

Agora é tempo de Dom Pedro Casaldáliga
90 ANOS Dom Pedro Casaldáliga em Confissão do Latifúndio:
"Por onde passei, plantei a cerca farpada, plantei a queimada. Por onde passei, plantei a morte matada. Por onde passei, matei a tribo calada,

a roça suada, a terra esperada… Por onde passei, tendo tudo em lei, eu plantei o nada."
Pedro Casaldáliga Plá nasceu catalão no ano de 1928, em uma aldeia há alguns quilômetros de Barcelona. De família camponesa, desembarcou no Brasil em 1968 e foi consagrado bispo em 1971, quando lançou sua Carta Pastoral Uma Igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social. O texto ficou conhecido nacional e internacionalmente e marcou o perfil do missionário como porta-voz de índios e agricultores, como destaca Antônio Canuto:

"O grande diferencial foi dar visibilidade a uma situação amazônica que praticamente era invisível. Ele mostrou para a Igreja e para a sociedade uma realidade que no restante do Brasil não se conhecia. Ele foi assumindo diretamente a defesa das pessoas mais atingidas pela violência daquela região, que eram os índios, os posseiros e os peões", afirma. 

Hoje, Dom Pedro Casaldáliga completa 90 anos de vida e 50 como bispo do povo. Ele foi responsável por articular e fundar o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a CPT, como uma forma de tratar assuntos sociais e políticos no universo da Igreja Católica.

Pedro Casaldáliga se apaixonou pela América Latina e só retornou uma vez à sua terra natal. Pela vocação literária, ajudou a escrever a Missa da Terra sem Males e a Missa dos Quilombos, cantada por Milton Nascimento e diversos artistas.

Obstinado, corajoso e firme, Casaldáliga fez uma escolha pelos pobres e lutou no Brasil da ditadura militar por saúde, educação, justiça e pela reforma agrária, o que lhe rendeu ameaças de morte e ataques dentro e fora da Igreja. As hostilidades não intimidaram sua resistência contra os males que o capitalismo selvagem — brasileiro e internacional — causava a milhares de homens e mulheres.

Em 2005, Dom Pedro, que sofre do mal de Parkison, apresentou sua renúncia do governo pastoral de São Félix do Araguaia. Hoje, frágil e com dificuldades de locomoção, ele ainda vive no mesmo lugar onde construiu seu compromisso religioso, social e político na vocação com o Evangelho que encarnou ao longo da vida.

As informações são da repórter Emilly Dulce
Edição de Fernando Atallaia e Mauro Ramos

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