quinta-feira, 30 de novembro de 2017
Justiça determina prisão de 30 policiais civis por tráfico e ligação com PCC
SÃO PAULO - O
Tribunal de Justiça de São Paulo determinou a prisão de 30 policiais civis que
atuam na cidade de São José dos Campos, a 95 quilômetros da capital, acusados
de tráfico de drogas por meio de ligação com o Primeiro Comando da Capital
(PCC). A Secretaria Estadual da Segurança Pública (SSP) afirmou que os mandados
ainda estão sendo cumpridos e que os detidos serão levados ao Presídio da
Polícia Civil. Além dos policiais, houve determinação da prisão de um
ex-policial, uma advogada e quatro outros traficantes de drogas.
A acusação é
resultado de uma investigação conduzida pelo Ministério Público Estadual (MPE),
que afirma ter identificado pagamentos de R$ 276,3 mil entre os anos de 2015 e
2017 para os policiais, que atuam em seis delegacias da zona sul da cidade. Mas
a denúncia cita ainda casos em que traficantes presos eram
"sequestrados" por policiais civis, que exigiam dinheiro para soltar
criminosos presos. A decisão foi antecipada pelo site "UOL.
A investigação,
chamada "Boate Azul", se desenvolveu entre os meses de junho e
novembro de 2016 e apurou a ação de integrantes do PCC no bairro Campo dos
Alemães, em São José. O trabalho resultou no indiciamento de 29 pessoas, que
agiam, de acordo com a investigação, de um homem chamado Lúcio Monteiro
Cavalcante -- morto por policiais militares em março deste ano. Cavalcante já
havia sido preso no Ceará por tráfico.
Após as ações da
"Boate Azul", as investigações continuaram e o Grupo de Atuação
Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) passou a apurar uma pista
encontrada com dos subordinados de Cavalcante: uma anotação encontrada em abril
do ano passado com nomes e valores pagos a policiais civis da cidade. A pista
estava com José Aparecido Teles de Proença, acusado de tráfico preso em flagrante
com 1,1 quilo de crack, uma pistola Glock e cerca de R$ 300 mil em dinheiro.
Na sequência, o Gaeco
passou a grampear suspeitos. "As investigações levaram à identificação do
envolvimento de policiais civis de São José dos Campos com traficantes de drogas
e com o recebimento contínuo de valores (propina) e com esquema de lavagem
(ocultação de patrimônio) de dinheiro originário do tráfico de drogas",
diz a decisão que determinou as prisões, que ainda afirma que o esquema de
tráfico "ostensivo" na região só ocorria por meio de um esquema
"endêmico" de corrupção.
O Tribunal de Justiça de São Paulo determinou a prisão de 30 policiais civis que atuam na cidade de São José dos Campos, a 95 quilômetros da capital, acusados de... |
Entre os policiais
que tiveram a prisão determinada, há agentes que atuam em delegacias
especializadas da Polícia Civil, como o Grupo Armado de Repressão a Roubos e
Assaltos (Garra), a Delegacia de Investigações Gerais (DIG) e ainda a Delegacia
de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise), responsável justamente em combater
o tráfico. Mas há também agentes lotados em outros locais da cidade, como a
Delegacia de Defesa da Mulher (DDM).
Os 30 policiais, todos
eles identificados no processo, recebiam propina mensal ou quinzenalmente, de
acordo com o MPE. O Estado tenta
contato com todos os acusados.
Ao pedir a prisão da
quadrilha, o MPE enviou à Justiça dez trechos de interceptações telefônicas em
que traficantes citam, em conversas entre si, os pagamentos feitos a policiais
civis. A denúncia cita ainda que, em uma diligência feita em um imóvel do
traficante Cavalcante em Jacareí, cidade vizinha a São José, foram encontrados
mais de 890 munições (balas) para as armas aprendidas no local (dois fuzis HK,
um fuzil AR-15, duas espingardas e duas pistolas) e que "a maioria das
munições pertencia a um lote adquirido pela Polícia Civil de São Paulo".
Sequestro. No texto,
são citados ainda apelidos com os quais os traficantes identificavam os
policias, como "Cabelo", "Pó", "Carequinha do
Óculos", "Cobra", "Correria" e outros.
A denúncia descreve
caso ocorrido em setembro de 2016, em que três dos policiais abordaram um
traficante em flagrante e, no lugar de prendê-lo, exigiram R$ 10 mil da mãe do
detido para liberá-lo sem nenhuma acusação. A conversa entre a mãe e outro
comparsa do rapaz preso foi monitorada.
"Do diálogo
entre ambos, verifica-se que estavam com dificuldades para reunir o montante
exigido a título de resgate, pois tinham pago R$ 25 mil a outros policiais
civis no dia anterior", descreve a sentença que determinou a prisão da
quadrilha.
As prisões foram
determinadas na quarta-feira e estão sendo cumpridas nesta quinta pela
Corregedoria da Polícia Civil. O Estado não tem a confirmação se há foragidos.
Por meio de nota, a Secretaria Estadual da Segurança Pública afirmou que
"será instaurado procedimento administrativo disciplinar para apurar a
conduta de 30 policiais da região de São José dos Campos que tiveram a prisão
preventiva decretada pela Justiça" e que "assim que os respectivos
mandados forem cumpridos, os policiais serão encaminhados ao Presídio da
Polícia Civil".
"A Polícia Civil
esclarece que não compactua com desvios de condutas e todos os fatos serão
devidamente apurados", diz a nota da secretaria.
AS INFORMAÇÕES SÃO DO
REPÓRTER BRUNO RIBEIRO, DO ESTADÃO
EDIÇÃO DE FERNANDO
ATALLAIA
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