quarta-feira, 8 de novembro de 2017
Quem é Fernando
Segóvia, o novo diretor-geral da PF
A troca era apontada
como uma das manobras para "estancar a sangria". Indicado de Temer
seria próximo a José Sarney e foi defendido pelo PMDB.
Em maio de 2016, o
Brasil descobriu o conteúdo de uma conversa entre o senador Romero Jucá
(PMDB-RR) e o ex-presidente da Transpetro Sergio Machado. O diálogo
descortinava o fato de que o impeachment de Dilma Rousseff (PT) era, ao menos
em parte, uma estratégia para barrar as investigações da Operação Lava Jato.
"Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria", disse
Jucá. "É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional",
respondeu Machado. "Com o Supremo, com tudo", concluiu o parlamentar.
Após o impeachment,
diversas formas de pressão contra a Lava Jato foram desencadeadas. Uma delas
seria a troca do diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello. Nesta
terça-feira 8, a substituição do comandante da PF foi oficializada. Daiello
deixará o cargo no qual estava desde 2011 e será substituído por Fernando
Segóvia.
Uma delas seria a troca do diretor-geral da Polícia Federal: Fernando Segóvia é o novo diretor-geral da PF. |
O nome de Segóvia não
será recebido sem controvérsias. Entre as diversas funções que ocupou como
delegado, como adido policial na África do Sul, está a de
superintendente da PF no Maranhão, estado da família Sarney. Segundo múltiplos
relatos publicados pela imprensa, Segóvia seria ligado ao ex-presidente José
Sarney (PMDB).
De acordo com
reportagem publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo em 15 de setembro,
"a relação com Sarney" gerava resistências ao nome de Segovia dentro
da Polícia Federal. "Nos bastidores", afirmou o jornal, "Segóvia
era visto como o nome que o PMDB queria indicar para a vaga de Daiello."
Dias antes, a revista
Veja afirmou que havia "forte movimentação da alta cúpula do
PMDB" em torno do nome de Segóvia. Outro que defendia o novo diretor da PF
para o cargo era o ministro da Justiça de Temer, Torquato Jardim. Jardim foi
advogado da ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney, filha de José Sarney.
A troca no comando da
Polícia Federal se dá no momento em que a cúpula do PMDB é alvo da Lava Jato.
Segundo um relatório da própria Polícia Federal, o presidente da República,
Michel Temer, tinha um papel de comando no chamado "quadrilhão do
PMDB".
Um relatório da PF
sobre o caso compilou as diversas acusações contra Temer, nas quais
aparecem também outros cinco peemedebistas: os ministros Eliseu Padilha
(Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral) e o s ex-deputados Eduardo Cunha
(RJ), Geddel Vieira Lima (BA) e Henrique Alves (AL).
HONORÁVEIS A troca era apontada como uma das manobras para "estancar a sangria". Indicado de Temer seria próximo a José Sarney e foi defendido pelo PMDB. |
Os três últimos estão
presos. Padilha e Moreira Franco, assim como Temer, se livraram momentaneamente
do processo depois de a Câmara rejeitar a denúncia por organização
criminosa e obstrução de Justiça apresentada pela Procuradoria-Geral da
República.
Ministério Público
Pode causar problemas
para a Lava Jato a relação entre a Polícia Federal e o Ministério Público
Federal na gestão de Fernando Segóvia. Em maio de 2013, ele defendia a PEC 37,
alteração constitucional que, segundo promotores e procuradores, iria
prejudicar o poder de investigação do MP. "A PEC vem justamente para
tentar delimitar qual seria esse poder de atuação dos Ministérios Públicos,
porque não há um regramento em si", afirmou em programa da Associação
dos Juízes Federais do Brasil.
"Se você
verificar tanto no texto constitucional quanto nas legislações inferiores, não
está em nenhum momento delineado esse procedimento de investigação", disse
Segovia. "O MP não tem esse poder de investigar e começou a
investigar, só que sem controle, através de procedimentos que estão inclusive
sendo questionados junto ao STF", concluiu.
A PEC 37 foi
derrubada pouco depois dos comentários de Segóvia, em junho de 2013, em meio à
convulsão social das manifestações ocorridas naquele mês em todo o Brasil.
A PF e o MP têm um
histórico de atritos ao longo dos anos por conta de uma competição entre as
categorias, em especial em termos de prerrogativas. No avanço da Lava Jato até
aqui, muitos consideram que a ausência desses atritos e o trabalho complementar
entre as duas instituições foi essencial.
AS INFORMAÇÕES SÃO DE CARTA CAPITAL
EDIÇÃO DE FERNANDO ATALLAIA
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