terça-feira, 12 de setembro de 2017
Sistemas agroecológicos produzem mais
até durante a seca
Pesquisas mostram que, em projetos que
praticam a agroecologia, o milho comum rende mais que os transgênicos
modificados.
A dinâmica de
acumulação e concentração de riqueza do atual sistema socioeconômico
hegemônico, que tem entre seus pilares a produção agrícola baseada na
monocultura altamente mecanizada, com uso de agrotóxicos e sementes
transgênicas, está na raiz da crise ambiental global marcada pelas mudanças
climáticas. O alerta foi feito pelo professor de Agroecologia da Universidade
da Califórnia em Berkeley, Miguel Altieri, em aula ministrada neste domingo
(10) na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnológicos, em Brasília. O curso
integra a programação do Agroecologia 2017, que compreende o 6º Congresso
Latino-americano de Agroecologia, o 10º Congresso Brasileiro de Agroecologia e
o 5º Seminário de Agroecologia do Distrito Federal e Entorno.
"A causa do
desafio ecológico que a humanidade enfrenta é o sistema socioeconômico
imperante, e em particular, a dinâmica da acumulação de capital", disse.
"A crise ambiental planetária é agravada por um modelo de desenvolvimento
incapaz de assegurar respeito pelo meio ambiente e pelas pessoas pobres do
mundo. É importante estar consciente de que as mudanças climáticas são apenas
um dos problemas ecológicos perigosos, que se originaram pelas transformações
humanas da terra."
No entanto, segundo
Altieri, as mudanças climáticas são também oportunidade de transformação social
para adaptação a essas alterações. "E também para questionamento dos
valores que condicionam a iniquidade e estabelecer uma relação sustentável da
civilização moderna com a natureza."
Propriedade familiar em Santa Catarina corrigiu o solo, acabou com a erosão e hoje produz mais e melhor com técnicas agroecológicas. |
Para o professor da
Universidade da Califórnia, o discurso desenvolvimentista dominante coloca a
economia acima da cultura e da saúde ecológica, "ignorando os interesses
das gerações futuras, os pobres e vulneráveis e os outros seres vivos".
Alternativa
Nessa perspectiva, a
agroecologia e suas bases científicas constituem a melhor alternativa de
enfrentamento e mudança.
Em sua aula, Altieri
destacou as etapas da transição de um modelo convencional de produção agrícola
para o agroecológico, em que os insumos caros e danosos ao meio ambiente são
substituídos por sistemas biológicos e ecológicos para balancear o fluxo de
nutrientes do solo, com maior concentração de matéria orgânica e biológica e
menor perda de recursos genéticos e de biodiversidade.
Esse conjunto de
processos caracteriza a agroecologia como ciência dedicada à produção de
alimentos saudáveis para todos e a proteção ambiental articulada com justiça
social e acesso democrático à terra.
Imagem inferior mostra correção da erosão em sistema agroecológico. |
Entre os exemplos que
ele mostrou está o de agricultores familiares de Santa Catarina, que melhoraram
a qualidade do solo ao adotar a técnica de plantio direto orgânico, que
dispensa herbicidas, e o uso de palhada de diversas culturas na superfície do
solo como estratégia para reduzir a erosão e o estresse pela falta de umidade e
devido às baixas temperaturas. O resultado foi a melhoria do desempenho das
culturas, com menos espaço para as plantas daninhas.
Maior bosque
Outra experiência
positiva é a da Reserva Natural El Hatico, no Valle del Cauca, na Colômbia. Com
285 hectares, situada no vale do rio Cauca, a reserva tem o maior bosque seco
tropical, dos quais 110 hectares são cultivados com cana de açúcar e 135
hectares voltados à produção de leite e carne bovina, bubalina e ovina, com
gestão racional de recursos agroflorestais.
Em 1994, a
produtividade a propriedade estava em queda, com dependência cada vez maior de
insumos químicos. A situação, agravada pelas mudanças climáticas, levou a
família Molina Durán a refletir sobre as condições em que entregaria o
patrimônio às futuras gerações. Foi quando implementaram o manejo
agroecológico, que integra agricultura, pecuária e florestas. Em 2014, atingiu
uma produção de 10,28 toneladas de cana por hectare por mês.
Na seca
Altieri mostrou ainda
a pesquisa do Instituto Rodale, da Pensilvânia, nos Estados Unidos, que
acompanha dados referentes ao desempenho do milho e da soja no país durante a
transição da agricultura química para a orgânica desde 1981.
Orgânicos X convencionais: Rendimento em anos com seca moderada. |
Os pesquisadores
descobriram que, no caso do milho, o rendimento do orgânico foi 31% superior ao
sistema convencional em anos de seca.
E que o rendimento
notável não se repetiu com o milho transgênico, geneticamente modificado para
resistir à seca, em comparação às variedades não resistentes. A diferença foi
de apenas 7 a 13.3%.
Se fosse adotada no
estado da Califórnia, é muito provável que a produção agroecológica teria
evitado a queda de 30% na safra de milho e soja transgênica e prejuízos de 1,5
milhão de dólares com a seca de 2014, uma das maiores da história dos Estados
Unidos – diretamente associadas às mudanças climáticas.
As informações são da
repórter Cida de Oliveira
Edição da RBA
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