terça-feira, 5 de setembro de 2017
Esquerda não pode voltar ao poder
para fazer "mais do mesmo", diz Flávio Dino
Capital financeiro deve pagar
impostos com proporcionalidade em relação aos mais pobres, pontua governador do
Maranhão.
A esquerda não deve fazer das
eleições de 2018 “apenas um saudosismo”, nem voltar para propor mais do
mesmo. Essa é a avaliação do atual governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do
B), que, em entrevista ao Brasil de Fato, destaca o
tipo de programa que, para ele, o país precisaria adotar na próxima disputa
presidencial.
“Não se pode continuar a fazer o
mesmo que fazíamos porque há novas questões”, afirma. Um destes
assuntos é o da justiça tributária. “Precisamos financiar os serviços
públicos e, para isso, precisamos de Justiça Tributária, no sentido de que os
mais ricos, os milionários, bilionários, os rentistas e o capital financeiro têm
que pagar os seus impostos com proporcionalidade em relação aos mais pobres”,
pondera.
''O Gramsci tem uma formulação que eu repito quase como um mantra e diz assim: “Pessimismo na teoria, otimismo na ação”. Ou seja, você tem que ter criticidade pra identificar o que está errado, pra corrigir e procurar os processos de formação de campos de forças que resolvam esses nós, essas questões agudas que impedem o desenvolvimento do país, a justiça social''. |
Dino tem sido apontado como
uma das grandes apostas do partido na conjuntura política pós-golpe e também
como um dos principais personagens da esquerda brasileira na atualidade.
Confira os principais trechos da entrevista, gravada em São Luís,
capital maranhense.
Brasil de Fato - O
senhor tem dito que “o pessimismo é uma armadilha ideológica”. Isso nos remete
ao debate sobre a criminalização da política, por exemplo. Por que, na sua
avaliação, a população não pode cair nessa?
Flávio Dino - O Gramsci
tem uma formulação que eu repito quase como um mantra e diz assim: “Pessimismo
na teoria, otimismo na ação”. Ou seja, você tem que ter criticidade pra
identificar o que está errado, pra corrigir e procurar os processos de formação
de campos de forças que resolvam esses nós, essas questões agudas que impedem o
desenvolvimento do país, a justiça social. Agora, você só fará o ciclo completo
se você tiver otimismo na ação, porque senão você vai ficar preso exatamente
aos diagnósticos e não vai fazer a prognose adequada, a luta adequada. Eu digo
que [pessimismo] é uma armadilha ideológica, porque é a paralisia da sociedade
em relação aos problemas nacionais e, ao mesmo tempo, uma espécie de
diversionismo, porque você desvia a atenção do que está acontecendo. Há coisas
de uma anomalia escabrosa, como, por exemplo, a injustiça tributária no Brasil.
Coisas que nem o regime militar
teve coragem de fazer agora estão se naturalizando, como, por exemplo, o país
perder algo simbólico do próprio conceito de soberania que é o poder de
estabelecer a confiabilidade da nossa moeda, do papel-moeda, a segurança das
relações jurídicas, porque apenas países muito atrasados praticam esse tipo de
terceirização ou privatização, qualquer que seja o nome que se queira dar.
Então, quando olhamos tudo isso que está acontecendo, é que nós identificamos
que, com esse sentimento de que o Brasil não tem jeito, o povo brasileiro
realmente põe tudo a perder, ou, no sentido mais da luta política, de que “a
culpa é dos vermelhos”, “a culpa é da esquerda”, é algo que atende exatamente
aos interesses dessa minoria de privilegiados que não têm o menor respeito pelo
sofrimento do nosso povo, pelos desempregados, por aqueles que precisam do
trabalho, da geração de renda, de investimentos, que moram no Brasil.
''Acho, por exemplo, que temos que pautar hoje, com muita ênfase, a questão tributária, e com muita clareza dizer pro povo o seguinte: “Quem precisa dos serviços públicos é o povo mais pobre e por isso nós precisamos financiar esses serviços. Para financiar isso, precisamos de justiça tributária, no sentido de que os mais ricos, os mais poderosos têm que pagar seus impostos com proporcionalidade em relação aos mais pobres''. |
Brasil de Fato - Olhando um pouco
para as eleições de 2018, o senhor tem dito que acredita na vitória
de Lula e da esquerda. Se a gente pensar nessa questão da criminalização
da política, como a esquerda poderia driblar isso para atingir esse horizonte
de retornar à Presidência da República?
Flávio Dino - Só é
possível colocando um programa correto para o debate da sociedade. Nós não
podemos fazer da eleição de 2018 um saudosismo apenas nem um itinerário de
perdas ou de erros. Temos que olhar pra eleição de 2018 com a bandeira da
esperança nas mãos e com o programa na outra mão. Nós precisamos responder à
seguinte questão: pra onde levar o país neste próximo ciclo, que não seja
apenas "mais do mesmo"? Você não pode dizer que vamos continuar a
fazer o que fazíamos porque há novas questões que se colocaram nesse
processo.
Acho, por exemplo, que temos que
pautar hoje, com muita ênfase, a questão tributária, e com muita clareza dizer
pro povo o seguinte: “Quem precisa dos serviços públicos é o povo mais pobre e
por isso nós precisamos financiar esses serviços. Para financiar isso,
precisamos de justiça tributária, no sentido de que os mais ricos, os mais
poderosos têm que pagar seus impostos com proporcionalidade em relação aos mais
pobres. Esse é um debate que nós temos que colocar como infelizmente não
colocamos.
Há novas questões, outras se
tornaram mais atuais, como a própria questão nacional, porque, quando nós
olhamos a abordagem da temática da energia, o que o Brasil está fazendo neste
momento? Destruindo a sua soberania energética. Isso se refere ao pré-sal e se
refere agora ao setor elétrico, que são ativos estratégicos de uma nação forte,
de uma nação capaz de se desenvolver e prover serviços pra população, e nós
estamos abrindo mão disso. Então, a questão nacional adquiriu uma nova
centralidade, que não é o nacionalismo xenófobo, preconceituoso, mas é a defesa
dos interesses nacionais em razão da questão social, da necessidade de
financiar as politicas públicas das quais o Brasil precisa, de modo que tenho
insistido neste tripé: nação-educação-produção. Acho que em torno desse tripé
nós temos que encontrar as respostas e conseguir comunicar isso à população,
por isso eu acredito no nosso êxito eleitoral, porque só nós podemos fazer
isso.
''Nós não podemos fazer da eleição de 2018 um saudosismo apenas nem um itinerário de perdas ou de erros. Temos que olhar pra eleição de 2018 com a bandeira da esperança nas mãos e com o programa na outra mão. Nós precisamos responder à seguinte questão: pra onde levar o país neste...'' |
Brasil de Fato - Isso seria,
então, a matéria-prima mais importante do programa eleitoral de 2018?
Flávio Dino - Creio que
sim, e nós temos o desafio consequente, que é transformar isso em mensagens e
políticas capazes de alavancar uma nova mobilização social. E por que eu digo
que só nós podemos fazer isso? Porque só nós acreditamos nisto, em direitos,
acreditamos nos serviços públicos. Essa fração da elite que aí está acredita na
naturalização da injustiça, na exclusão social, na concentração de riqueza nas
mãos de uma minoria. Tenta empurrar goela abaixo uma noção de que a mão
invisível do mercado vai salvar o país, como se isso tivesse acontecido em
algum país do planeta. Nem nos Estados Unidos…
Essa tragédia do desemprego, do
aniquilamento de políticas sociais, a destruição desse patrimônio que nós
construímos ao longo do tempo que é o Sistema Único de Saúde (SUS), a
destruição das universidades públicas…Temos que transformar isso em potência
política, em movimento. Acho que esse é o nosso desafio, de encontrar esses
temas corretos, que já estão identificados, em negação ao que está aí, mas,
pelo caminho da afirmação, precisamos despertar uma nova esperança na
população.
Por Cristiane Sampaio, do Brasil
de Fato
Edição de Fernando Atallaia e
Mauro Ramos
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ResponderExcluirRomualdo Penha
Ele sabe como tirar a Nação do buraco negro que se encontra, mas faz uma das piores gestões da história do Maranhão.
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