segunda-feira, 21 de agosto de 2017
O doloroso inventário
dos fugazes amores
A Poesia, no Maranhão, notadamente em São Luís, é quase uma destinação
atávica. Como se viesse já transmitida pelo DNA. Na São Luís em que cresci, de
poucos mil habitantes, tratávamo-nos, ao encontrarmo-nos nas ruas, pelo
respeitoso cumprimento, “como vai, meu poeta?”. Mesmo quando o amigo
cumprimentado nunca houvesse publicado um livro de poemas ou pelo menos escrito
uma linha sequer, no caso específico, um verso.
Por Viriato Gaspar |
O autor do presente livro de poemas “Ode Triste para Amores Inacabados”, Fernando Atallaia, é o que se chama, em linguagem de hoje, um
multiartista. Produtor cultural, jornalista, músico, compositor, blogueiro, crítico,
consegue exprimir-se em um leque variado de atividades ligadas à cultura,
notadamente à literatura e à música, que em São Luís do Maranhão são tão
importantes para a existência como o arroz de cuxá e o camarão de cada dia. A
par de todas essas atividades, como não poderia deixar de ser numa Ilha em que
a Poesia esbarra com a gente em cada ladeira, em cada sobrado antigo, em cada
beco, num lugar em que a Poesia passa por nós num barco ao longe, ao longo da
Beira-Mar, cortando o rio Anil, num fim de tarde, não poderia Fernando Atallaia, por um determinismo
herdado talvez da magia peculiar que se respira no ar, não trazer impresso em
si, de forma indelével e definitiva, o gene sagrado da Poesia, o vírus do poema.
Nesta “Ode Triste para Amores
Inacabados”, o poeta Fernando
Atallaia nos apresenta poemas bem (en)talhados, muitas vezes francamente
versíficos, trabalhando imagens que batem na alma com ecos multiformes e tonalidades
que oscilam entre o desalento e a desesperança, entre o erótico e o carnal. Outras
vezes, o poeta beira a prosa, carreia para o poema um proposital desritmo
poético, quase uma antilinguaguem de poesia, resvalando intencionalmente para
uma quase prosa poética, conseguindo injetar no texto uma noção de
arrastamento, de esbarro no prosaico, na inexorável consumição do tempo
dissolvendo o sal e o sol da existência, levando de roldão quanto a vida teve
de mar e calor, de mel e olor, de claro e fundo.
Há poemas muito curiosos e peculiares, como o dedicado a Mônica Matos, a
mais famosa porn star brasileira, e um em que cita, numa orgíaca salada russa,
a poetisa Hilda Hilst, e as porn stars Vivi Fernandes e Lara Stevens. Fernando Atallaia, embora ainda tenha
uma longa caminhada à sua frente, traz em si o germe da poesia, o faro da boa,
bela e sempre renovada poesia de São Luís do Maranhão. Que venham outras Odes,
tão boas como estas.
Viriato Gaspar nasceu em São Luís em 7 de março de 1952. Radicado em
Brasília desde agosto de 1978, é jornalista desde 1970. Do quadro funcional do Superior
Tribunal de Justiça-STJ, participou em antologias poéticas no Maranhão e em Brasília,
sendo vencedor de muitos prêmios literários, tanto em sua terra natal
quanto no Distrito Federal. Bibliografia: Manhã Portátil, Gráfica
SIOGE, São Luís-MA (1984); Onipresença (versão incompleta), Gráfica
SIOGE, São Luís-MA (1986); A Lâmina do Grito, Gráfica SIOGE, São Luís-MA
(1988), e Sáfara Safra, São Luís-MA (1996). Está concluindo um livro de Salmos
em linguagem moderna, e tem dois livros de poemas e um de contos, inéditos.
Ao lado de Raimundo Fontenele, Chagas Val, Valdelino Cécio e Luis Augusto
Cassas, fundou e integrou o Antroponáutica, principal movimento literário
maranhense da década de 70.
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Show!!!!
ResponderExcluirDrika
Fernando, apesar de conhecer pouco os seus escritos, tenho profunda admiração por você, sua poesia, sua sensibilidade. Parabéns, você é fenomenal.
ResponderExcluirMeu poeta, depois do maravilhoso texto do Viriato, faltam-me palavras para exaltar mais ainda a sua obra, que eu aprecio muitíssimo. Então, só cabe dizer parabéns! e siga em frente nesta caminhada poética!
ResponderExcluirFernando Atalaia você está de parabéns com as suas publicações você é um gênio meu rapaz
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