sexta-feira, 19 de maio de 2017

5% para Temer, o preço a pagar por uma decisão do CADE segundo a JBS
Órgão diz que pleito não foi atendido, mas confirma contato de enviado de presidente
Outro delator acusa presidente de receber 15 milhões em caixa dois para PMDB em 2014.

O magnata da JBS, Joesley Batista, prometeu que daria uma propina ao presidente Michel Temer (PMDB) caso fosse resolvida uma pendência que uma empresa de seu grupo tem no Conselho de Administração de Defesa Econômica (CADE), o órgão que regula a competição no mercado, contra a Petrobras. O dinheiro ilícito seria pago com base no lucro de uma termelétrica que o grupo controla em Cuiabá (MT). Pelo acordo, o presidente receberia 5% de tudo que essa empresa de energia lucrasse. As estimativas da J&F, a holding do grupo JBS, eram de que por dia ela poderia movimentar cerca de 3 milhões de reais.

A revelação foi feita por Joesley Batista no depoimento que compõe o seu termo de delação premiada com o Ministério Público Federal. A oferta, segundo sua versão, foi feita ao deputado federal afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), que foi a pessoa da “mais estrita confiança” indicada por Temer para intermediar as conversas entre o empresário e o presidente da República. Temer é, desde a última quinta-feira, investigado pelos crimes de corrupção passiva, obstrução à investigação de organização criminosa e participação em organização criminosa.

Dirigente da holding J&F, Joesley explicou aos procuradores que nas conversas que teve com Loures deixou claro que precisaria buscar novas fontes de recursos para silenciar Eduardo Cunha e Lúcio Funaro. O primeiro é o ex-deputado do PMDB, aliado de Temer, que está preso em Curitiba por suspeitas de envolvimento no esquema criminoso descoberto pela operação Lava Jato. Funaro é apontado como o operador das propinas dos peemedebistas.
Resultado de imagem para TEMER
Michel Temer curte 5: na tradução do esquema, 15 milhões em caixa dois.
“A planilha [de propinas] do Eduardo acabou. A planilha do Lúcio, acabou o dinheiro. No intuito de que, para mantê-los, tem que fazer mais negócio, tem que prometer mais propina, tem que reservar mais. E dentro desse contexto eu estava dizendo [para o Loures] o potencial que daria. No curto prazo, eu falei para ele que podia pagar 5%, com o qual ele concordou”, disse o empresário aos procuradores.

O objetivo de Joesley era que o CADE encerrasse o monopólio da Petrobras do fornecimento de gás para termelétrica do Grupo J&F. A companhia dele depende do gás natural boliviano, que é comercializado diretamente e exclusivamente pela Petrobras. Se o CADE decretasse que esse comércio não era monopólio, ele poderia comprar diretamente da Bolívia e, a partir daí, teria lucro e repassaria a propina ao presidente por intermédio de Loures. O CADE divulgou nota dizendo que o pleito da EPE, a termelétrica da J&F, não foi atendido, e os protestos contra a Petrobras envolvendo a importação do gás na Bolívia vinham também de outras companhias. O presidente interino da órgão, Gilvandro Araújo, no entanto, disse ter recebido um telefonema de Loures a respeito, mas reiterou que não deu encaminhamento ao pedido.

Em pronunciamento na tarde de ontem, o presidente disse que jamais autorizou que alguém negociasse em seu nome. “Em nenhum momento autorizei que pagassem a quem quer que seja para ficar calado. Não comprei o silêncio de ninguém por uma razão singelíssima, exata e precisamente porque não temo nenhuma delação”, afirmou.

O delator deixou claro aos investigadores que as reuniões que manteve com o deputado afastado Loures só ocorriam por ordem de Temer. “Eu não me relaciono com o Rodrigo. 100% do meu negócio é com o presidente Michel”. Segundo Joesley, ele também era próximo de Cunha e do PMDB na Câmara.

No encontro gravado que teve com o presidente, Joesley relatou que sua preocupação era de saber se deveria manter o apoio financeiro que dava ao ex-deputado. Saiu de lá ouvindo que o suporte deveria ser mantido, segundo sua interpretação.

15 milhões ao PMDB

O presidente também foi citado em outra delação da JBS, a firmada pelo diretor de relações institucionais da JBS, Ricardo Saud. Chamado de o “homem da mala”, Saud procurou Temer em 2014, a pedido do então ministro da Fazenda, Guido Mantega, para avisar que pagaria 35 milhões de reais para senadores do PMDB apoiarem a reeleição de Dilma Rousseff. Na ocasião, o então vice-presidente indignou-se. “Como assim? PMDB tem que passar por mim! Eu vou reassumir o PMDB”, disse Temer, segundo o delator.

Uma semana depois, afirmou Saud, ele reassumiu a presidência do partido. Temer também teria questionado se o PT não entregaria parte do dinheiro para ele. Depois de conversas com Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma em 2014, o PT decidiu destinar 15 milhões a Temer. O delator destaca que era dinheiro de propina “dissimulada de doação oficial”.

O atual presidente dividiu a propina: 9 milhões de reais foi entregue para o Diretório Nacional do partido; três milhões foram entregues a Eduardo Cunha, “para conter uma crise que estava começando”, mas que ele não sabia qual era; dois milhões foram pagos para o marqueteiro Duda Mendonça, em benefício de Paulo Skaf. E o último milhão Temer mandou entregar a João Baptista Lima e Filho, o coronel Lima, que assessorou Temer quando ele foi secretário de Segurança Pública de São Paulo, na década de 1990.

Segundo Saud, esse um milhão era para o próprio Temer. “Me chamou muita atenção na campanha toda. Porque eu já vi o cara pegar o dinheiro para campanha e gastar na campanha. Agora o cara ganhar um dinheiro do PT e guardar para ele no bolso é muito difícil. Só o Temer e o [Gilberto] Kassab [fizeram isso]”, ressaltou o diretor da JBS. “Não satisfeito, ele guardou um milhão para ele no bolso”.


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