quinta-feira, 20 de abril de 2017
A foto dos estudantes de
medicina não pode ser encarada como 'brincadeira'
Estudantes de medicina que posaram para foto de calças arriadas e fazendo gesto obsceno podem ser expulsos de universidade. Imagem foi divulgada acompanhada da legenda #pintosnervosos e causou revolta nas redes sociais, mas houve quem defendesse os alunos.
Estudantes de medicina que posaram para foto de calças arriadas e fazendo gesto obsceno podem ser expulsos de universidade. Imagem foi divulgada acompanhada da legenda #pintosnervosos e causou revolta nas redes sociais, mas houve quem defendesse os alunos.
Uma foto publicada no Facebook, em que
estudantes de Medicina posam trajando jalecos brancos, calças arriadas e
com as mãos em um gesto que remete à genitália feminina, provocou
reação do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES), que
afirmou que cobrará punição aos envolvidos.
Em nota, a entidade diz que se reuniu com a
Universidade de Vila Velha – onde os alunos estudam – para que o
Conselho esclareça sobre a seriedade do caso e o flagrante desrespeito à
ética profissional, além de aplicar uma punição “compatível com o
ocorrido”.
Dois dos estudantes que posaram para a foto
postaram em seus perfis #PintosNervosos, #vemcrm (numa provocação ao
Conselho Regional) e “Finalizando o dia de fotos”, o que pode sugerir
que a imagem tenha sido feita por ocasião de uma sessão que reuniu toda a
turma para a produção de fotos para os convites de formatura.
“Queremos expulsão. Vocês não têm controle algum de
que eles não abusarão de pacientes. Mulheres de 13, 30, 80 anos
precisam de ginecologista. Vocês vão esperar acontecer o pior? Podemos
responsabilizar a Universidade depois, como cúmplice?”, publicou uma
internauta.
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A universidade divulgou um comunicando afirmando
que “repudia todas as formas de ofensa e desrespeito” e afirma que está
abrindo sindicância para apuração do ocorrido e “para penalização dos
que vierem a ser responsabilizados”.
O presidente da Federação Nacional dos Médicos
(Fenam) e do Sindicato dos Médicos do Espírito Santo (Simes) e
vice-presidente da Confederação Nacional dos Médicos (CNM), Otto
Baptista, reprovou a postura dos alunos.
“Qualquer formando tem o direito de fazer suas
manifestações, suas festas, até de uma forma irreverente. Mas essa
irreverência não pode passar a ser um atentado contra a dignidade do
médico. Se foi brincadeira, foi de mau gosto, e extremamente
comprometedora, com repercussões éticas. Isso é uma coisa muito séria”,
disse Otto.
Redes Sociais
Nas redes sociais, a foto provocou revolta entre os internautas. “Como médica há trinta anos, só posso expressar vergonha por saber que existem pessoas que querem vilipendiar a profissão dessa maneira. Absurdo”, escreveu uma usuária.
“Achei absurdo e revoltante! Estou na dúvida se me
sinto mais desrespeitada como médica ou como mulher”, afirmou outra
leitora. “”São esses “profissionais” que cuidarão dos meus futuros
filhos? Que nojo”, criticou um rapaz.
Houve, porém, quem defendesse os alunos. Algumas
pessoas disseram que o símbolo exposto pelos estudantes de medicina
seria uma brincadeira já usada por jogadores de futebol como Neymar e
Ronaldinho Gaúcho.
Punição
Segundo a Universidade de Vila Velha, a decisão sobre a punição aos estudantes será tomada após a conclusão de uma sindicância, que tem como objetivo apurar a conduta dos envolvidos e cujo prazo de conclusão é de 30 dias úteis.
De acordo com a instituição de ensino, os alunos
estão sujeitos a três tipos de punição: advertência escrita e verbal,
suspensão de três a cinco dias ou o desligamento da instituição.
Ainda segundo a UVV, a comissão de sindicância é composta por profissionais da própria instituição.
Na página oficial da universidade no Facebook, outros alunos pedem a expulsão dos formandos.
“Queremos expulsão. Vocês não têm controle algum de
que eles não abusarão de pacientes. Mulheres de 13, 30, 80 anos
precisam de ginecologista. Vocês vão esperar acontecer o pior? Podemos
responsabilizar a Universidade depois, como cúmplice?”, publicou uma
internauta.
Abusos em consultórios
Depois que a imagem viralizou, algumas mulheres compartilharam histórias de assédio em consultas médicas.
O relato mais repercutido foi o da
professora Elika Takimoto,
que até o fechamento desta matéria já acumula 157 mil curtidas no Facebook.
Leia a íntegra abaixo:
Quando eu tinha dez anos fui ao oftalmologista.
Ele apagou as luzes para eu ler as letrinhas iluminadas ali na frente.
Com a minha mãe no consultório, ele colocou o pênis dele para fora, me
sarrou o braço e forçou a minha mão para mexer nele. Eu não sabia o que
fazer. Minha mãe não percebeu nada porque estava olhando para as
letrinhas iluminadas. Saí de lá. Não conseguia falar. Fiquei com medo de
sabe Deus o quê.
A história se repetiu com um ginecologista que
me apalpou de um jeito estranho. Era adolescente e também não soube
reagir. Tive medo de novo de contar para alguém e ser criticada porque
não fiz nada ou, pior, me culparem por isso.
Daí, vejo essa foto. Futuros médicos fazendo
apologia ao estupro da Universidade Vila Velha, ES, com calça arriada
fazendo sinal obsceno com as mãos. Um deles, disseram, postou a foto no
perfil com a hashtag #pintonervoso.
E quando afirmamos que todo homem é um
estuprador em potencial porque não sabemos de onde pode vir o ataque
somos criticadas por generalizar. Entendam: não é sobre você. É sobre
como nos sentimos ameaçadas e sem saber quando e em quem confiar até
mesmo nos locais que deveriam ser nosso porto seguro, como um
consultório em que vamos procurando cuidados.
Que esses “futuros médicos” jamais sejam
médicos. Que a Universidade expulse todos e a sociedade entenda que não
mais aceitaremos esse tipo de apologia ao estupro e “brincadeiras” com
esse tipo de coisa.
Mais uma vez, brincadeira é quando todos se divertem. Se um lado sente medo, isso tem outro nome. Vê se aprendem de vez.
AS INFORMAÇÕES SÃO DO PRAGMATISMO
EDIÇÃO DE ANB
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