segunda-feira, 20 de março de 2017
Os maiores absurdos encontrados pela Polícia Federal na
Carne Fraca
Deflagrada nesta
sexta-feira pela Polícia Federal, a Operação Carne Fraca se
deparou com uma série de irregularidades praticadas por frigoríficos no país,
desde os empreendimentos de pequeno porte às gigantes do setor BRF
e JBS.
A investigação,
baseada sobretudo em grampos da PF, identificou carnes com salmonela, podres e
vencidas, o uso de ácido ascórbico, uma substância cancerígena, para “maquiar”
produtos, além do uso de carne de cabeça de porco na produção de linguiças e
até o suposto uso de papelão para reforçar a mistura transformada em
salsicha.
Veja abaixo os
maiores absurdos encontrados na operação:
Carne com salmonela
A investigação da
Carne Fraca grampeou debates entre o agente de inspeção federal Carlos Cesar e
o auxiliar operacional em agropecuária Carlos Augusto Goetzke, conhecido como
Carlão, em que eles ponderam sobre o destino de uma carga de 18 toneladas de
carne de peru infectada com salmonela, do frigorífico Souza Ramos: fabricar
mortadela ou ração?
“Chega a causar náuseas a naturalidade com a qual ambos tratam a destinação a ser dada para a carne podre, com salmonela e altamente imprópria para consumo – colocar no digestor ou fazer mortadela” |
“Chega a causar
náuseas a naturalidade com a qual ambos tratam a destinação a ser dada para a
carne podre, com salmonela e altamente imprópria para consumo – colocar no
digestor ou fazer mortadela”, afirmam os investigadores.
Diálogos
interceptados pela PF também mostram um diretor da BRF, André Baldissera,
conversando com um interlocutor identificado como Fabrício sobre a retenção de
contêineres na Itália. Com base nos áudios, a investigação concluiu que as
autoridades sanitárias da Europa haviam identificado no carregamento “traços de
uma das variações da bactéria salmonela” e, por isso, havia vetado a entrada
dos alimentos.
Carne podre e vencida
Em uma conversa
interceptada pela Polícia Federal entre Idair Piccin e Normélio Peccin, dois
dos sócios do frigorífico Peccin, os empresários demonstram estar
impressionados com a resiliência de uma peça de presunto podre, que quase não
aparenta a condição. “Não tem cheiro de azedo”, garante um deles:
Normélio: Tu viu
aquele presunto que subiu ali ou não chegou a ver?
Idair: Ah, eu não vi.
Cheguei lá, mas o Ney falou que tá mais ou menos . Não tá tão ruim.
Normélio: Não. Não tá.
Fizemos um processo, até agora eu não entendo, cara, o que é que deu naquilo
ali. Pra usar ele, pode usar sossegado. Não tem cheiro de azedo. Nada, nada,
nada.
Conforme a apuração
da Polícia Federal, até mesmo Daniel Gonçalves Filho e Maria do Rocio, os dois
líderes do esquema no Paraná, ficavam preocupados com o funcionamento o
frigorífico Larissa, do empresário Paulo Sposito, tamanha era a “ausência de
qualidade” em sua produção.
Em um diálogo com um
funcionário, Sposito não se mostra surpreso com a substituição de etiquetas de
validade em um carga de carnes de barriga ou com a utilização de carnes
vencidas há três meses para a produção de outros alimentos. “Se é que se pode
chamar de alimento algo composto por restos não mais aptos ao consumo humano”,
observa a PF.
Ácido ascórbico como ‘maquiagem’
O frigorífico Peccin,
que teve duas unidades interditadas pela investigação, uma em Curitiba e outra
em Jaraguá do Sul, tinha um ingrediente secreto em seus produtos. Segundo a
ex-auxiliar de inspeção Daiane Marcela Maciel, a empresa promovia “maquiagem de
carnes estragadas com a substância cancerígena ácido ascórbico”, truque
empregado na produção de salsichas e linguiças, além de usar quantidades de
carne muito menores que o indicado em seus produtos e complementá-los com
outras substâncias.
O Peccin também
mantinha carnes sem rótulos ou refrigeração e falsificava notas de compra do
produto.
Cabeça de porco na linguiça
Uma das
interceptações telefônicas da operação flagrou Idair Piccin e sua mulher, Nair,
combinando a compra de 2.000 quilos de carne de cabeça de porco para a
fabricação de linguiças, prática que é proibida.
Piccin até chega a
ponderar a respeito da proibição, mas a mulher diz que conseguiu negociar as
duas toneladas da carne por um bom preço e que o marido deveria utilizá-la para
“fechar uma carga”.
“É, pega , nós vamos
fazer o quê? Só que na verdade usar no que? Vai ter que enfiar um pouco em
linguiça ali”, concorda o empresário, preso nesta sexta-feira, assim como sua
mulher.
Papelão na mistura
A investigação também
grampeou uma conversa em que dois funcionários da BRF supostamente conversam
sobre a suposta inclusão de papelão em carnes utilizadas para processar
salsichas, conhecida como CMS.
Funcionário: O
problema é colocar papelão lá dentro do cms também né. Tem mais essa ainda. Eu
vou ver se eu consigo colocar em papelão. Agora se eu não consegui em papelão,
daí infelizmente eu vou ter que condenar.
Funcionário 2: Ai tu
pesa tudo que nós vamos dar perda. Não vamos pagar rendimentos isso.
Segundo a empresa, no
entanto, os homens discutiam a embalagem do produto, e não sua composição.
AS INFORMAÇÕES SÃO DO
REPÓRTER JOÃO PEDROSO DE CAMPOS
EDIÇÃO DE ANB ONLINE
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