domingo, 1 de janeiro de 2017
Denúncia contra professora da
UFABC faz lembrar tempos de caça às bruxas nos EUA
Macartismo sai do sarcófago para
assombrar a UFABC. Denúncia contra professora universitária, acusada de ter
“ideias de esquerda”, traz à lembrança os tempos sombrios da “caça às bruxas”
nos Estados Unidos.
Por Igor Fuser
Na
contramão de todas as evidências, ainda existe muita gente que, honestamente,
considera um exagero denunciar a existência de uma escalada autoritária ou
fascista no Brasil do pós-golpe.
A nota
aqui reproduzida é apenas um exemplo – um, entre centenas de casos, muitos
deles bem mais graves – do ambiente repressivo que, pouco a pouco,
sorrateiramente, vai se instalando em todas as esferas da vida brasileira.
Trata-se
da manifestação da corregedoria da Universidade Federal do ABC, com data de
31/10/2016, rejeitando (felizmente!) uma delação anônima contra uma professora
do curso de Filosofia, denunciada por ministrar um curso intitulado “Pensamento
marxista e seus desdobramentos contemporâneos”.
É
inacreditável! Se Karl Marx é considerado, por absoluto consenso entre os
estudiosos desse campo do conhecimento, um dos filósofos mais importantes de
todos os tempos, como é que alguém pode se formar em Filosofia sem conhecer o
marxismo?
A
denúncia contra essa docente, acusada de ter ideias de esquerda (como se isso fosse
uma “acusação” a ser levada a sério!), traz à lembrança os tempos sombrios da
“caça às bruxas” nos Estados Unidos do macartismo – o fascismo à moda gringa,
que entrou para a história como símbolo da intolerância, do preconceito e da (pura
e simples) burrice.
O
macartismo (em inglês, McCarthysm) foi uma patologia política típica da Guerra
Fria. Seu auge ocorreu no período de 1950 a 1957. De acordo com a wikipedia,
esse “é um termo que se refere à prática de acusar alguém de subversão ou traição
sem respeito pelas evidências”. Origina-se da campanha anticomunista promovida
pelo senador Joseph McCarthy, do Partido Republicano, quando milhares de
cidadãos dos EUA foram acusados, sem mais nem menos, de serem comunistas ou até
mesmo espiões a serviço da União Soviética.
Por
conta do macartismo, muitas pessoas, conforme relata o Wikipedia, perderam seus
empregos ou tiveram suas carreiras destruídas, e muitas foram presas. A maioria
das punições foram baseadas em julgamentos que, mais tarde, foram anulados –
como certamente serão anuladas, no futuro, todas ou quase todas as sentenças
arbitrárias do “juiz” Sérgio Moro na Operação Lava-Jato.
O
senador McCarthy e seus capitães-do-mato, assim como o verdadeiro circo que
caracterizava as audiências da “caça às bruxas”, se tornaram objeto de um
ridículo que se reproduz pelas gerações. Mas o sofrimento das vítimas do macartismo
foi concreto, assim como os efeitos nefastos para a prática da democracia.
Não
podemos deixar que, seis décadas depois, essa página infeliz da história da
humanidade se repita aqui no Brasil.
Igor
Fuser é professor de Relações Internacionais da UFABC
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