terça-feira, 20 de dezembro de 2016
Um cara legal
Por ocasião do lançamento do filme Dois Caras Legais, Roussel Crowe,
em entrevista promocional, disse algo que me levou a essas reflexões.
Disse o astro oscarizado (Uma Mente Brilhante) que suspeita do cara
legal que, no caso, é aquele que abraça todo mundo, que quer ser
simpático com todos, e que está sempre disponível para concordar, ainda
que, para isso, tenha que contrariar as suas convicções, se é que ele
tem alguma a ser contrariada.
Diante dessa afirmação, fui instado a, mais uma vez, pensar em mim mesmo, na minha maneira de ser, uma vez que, tendo convicções fortes, costumo defendê-las com muita veemência, muitas vezes em detrimento dos meus relacionamentos, pois, afinal, na defesa das minhas convicções, não tergiverso, ainda que possa ser incompreendido.
É verdade que vivemos num mundo no qual parece ser pecado assumir posições, pois o que se vê são pessoas em permanente titubeio, agindo de forma pendular, sempre de acordo com as conveniências e nunca em face das suas convicções, assim como é verdade que, para viver e conviver bem, é preciso usar de subterfúgios, para agradar, sobretudo, os que querem ser gostados. Eu também quero. Quem não quer? Ainda assim, não abro mão das minhas convicções, pois não quero ser gostado fazendo escambo das coisas que penso.
Observo que num ambiente corporativo é ainda mais difícil assumir
posições, pois é quase um pecado discordar. Nesse mundo, que às vezes
abomino, é preciso ser cordato, seguir a correnteza, ser simpático,
agradável, abraçar, beijar, elogiar, fingir ser um cara legal, pois é
assim que as parcerias são construídas, e o poder é exercido. Além
disso, é assim que se consolida a cumplicidade corporativa. Mas eu não
sou nem consigo ser assim.
Na perspectiva do exercício do poder, vê-se que não sou, definitivamente, um cara legal, uma vez que tenho minhas reservas a esse tipo de comportamento, pois, afinal, quem pensa e age assim, sempre disposto a aquiescer, a ser sempre simpático, não pode ser, definitivamente, confiável, já que é do tipo “Maria vai com as outras”, o qual não assume posição, com receio de contrariar; ou, ao reverso, só assume posições quando estas lhes convêm.
Logo, não dá para acreditar no que dizem as pessoas que querem sempre ser simpáticas, que estão sempre dispostas ao elogio gratuito, pois parecem estar levando a vida na valsa, no embalo, ao sabor das conveniências, fruto de sua tibieza, de sua personalidade vacilante e oportunista.
A verdade é que tenho restrição a quem quer parecer bonzinho para todo mundo, do tipo que não diz não, do que só discorda se for conveniente fazê-lo, se for para agradar o interlocutor, para comprovar, definitivamente, a sua condição de subserviente. Por tudo isso é que, tal qual o grande ator, são mais do que justificadas as suspeitas que todos nós temos do cara legal, no sentido aqui refletido, claro.
Eu, de minha parte, prefiro o cara verdadeiro, franco, direto, objetivo, que age sem enleio, sem titubeio, sem indecisão, sem que isso signifique ser colérico, sem que, por ser assim, seja descortês ou deselegante, pois podemos, sim, ser afáveis sem ser subservientes. Não precisa, pois, ser mal-educado, zangadiço ou conflituoso para ser verdadeiro e crível. Basta não ser oportunista, titubeante, disfarçado, dissimulado, falso manso, falso cortês, moderado de aparência ou sereno por conveniência.
Todos podem, sim, se mostrar convictos, ter firmeza de posições, ter gênio e caráter fortes, sem ser mal-educados, convivendo bem e civilizadamente, mesmo com aqueles com os quais não concorda.
A verdade é que, no mundo em que vivemos, há uma multiplicidade enorme de caráter, alguns do quais são simplesmente abomináveis, mas toleramos, somos compelidos a suportar, pelo bem da convivência.
Decerto que o bonzinho, o afável, o cordato, o amigo de todos, o cara legal, enfim, nem sempre é, necessariamente, um mau caráter. Contudo, embora não o seja, tem algo abominávell que lhe distorce a personalidade, que é fato de querer agradar a todo mundo, motivo pelo qual ele não assume posições, parecendo, nesse cenário, não ser confiável, porque costuma dizer o que o interlocutor quer ouvir e não a verdade que deve ser dita.
Quanto a mim, não sou do afago fácil, da tapinha nos ombros, do elogio gratuito, do sorriso fácil e oportunista, mas ainda prefiro ser como sou, embora algumas pessoas vejam como defeito essa minha maneira de ser.
Portanto, aquele que está sempre disposto a concordar, que não perde a oportunidade para se fazer simpático, que quer estar de bem com todo mundo, parece, aos meus olhos e de muitos, que está sempre dissimulando, usando a arma da simpatia aparente para esconder algo, para aparecer bem na fita, como se fosse amigo de todo mundo; e, por mais que queiramos, isso nunca será possível.
José Luiz Oliveira de Almeida é desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi Juiz de Direito da 7ª Vara Criminal e Promotor de Justiça. Também lecionou na Universidade Federal do Maranhão e na Escola da Magistratura do mesmo estado, tendo optado, há alguns anos, pela dedicação exclusiva ao Poder Judiciário.
Por José Luiz Oliveira de Almeida |
Diante dessa afirmação, fui instado a, mais uma vez, pensar em mim mesmo, na minha maneira de ser, uma vez que, tendo convicções fortes, costumo defendê-las com muita veemência, muitas vezes em detrimento dos meus relacionamentos, pois, afinal, na defesa das minhas convicções, não tergiverso, ainda que possa ser incompreendido.
É verdade que vivemos num mundo no qual parece ser pecado assumir posições, pois o que se vê são pessoas em permanente titubeio, agindo de forma pendular, sempre de acordo com as conveniências e nunca em face das suas convicções, assim como é verdade que, para viver e conviver bem, é preciso usar de subterfúgios, para agradar, sobretudo, os que querem ser gostados. Eu também quero. Quem não quer? Ainda assim, não abro mão das minhas convicções, pois não quero ser gostado fazendo escambo das coisas que penso.
O desembargador José Luiz Oliveira de Almeida: ''Decerto que o bonzinho, o afável, o cordato, o amigo de todos, o cara legal, enfim, nem sempre é, necessariamente, um mau caráter. Contudo, embora não o seja, tem algo abominávell que lhe distorce a personalidade, que é fato de querer agradar a todo mundo, motivo pelo qual ele não assume posições, parecendo, nesse cenário, não ser confiável, porque costuma dizer o que o interlocutor quer ouvir e não a verdade que deve ser dita''. |
Na perspectiva do exercício do poder, vê-se que não sou, definitivamente, um cara legal, uma vez que tenho minhas reservas a esse tipo de comportamento, pois, afinal, quem pensa e age assim, sempre disposto a aquiescer, a ser sempre simpático, não pode ser, definitivamente, confiável, já que é do tipo “Maria vai com as outras”, o qual não assume posição, com receio de contrariar; ou, ao reverso, só assume posições quando estas lhes convêm.
Logo, não dá para acreditar no que dizem as pessoas que querem sempre ser simpáticas, que estão sempre dispostas ao elogio gratuito, pois parecem estar levando a vida na valsa, no embalo, ao sabor das conveniências, fruto de sua tibieza, de sua personalidade vacilante e oportunista.
A verdade é que tenho restrição a quem quer parecer bonzinho para todo mundo, do tipo que não diz não, do que só discorda se for conveniente fazê-lo, se for para agradar o interlocutor, para comprovar, definitivamente, a sua condição de subserviente. Por tudo isso é que, tal qual o grande ator, são mais do que justificadas as suspeitas que todos nós temos do cara legal, no sentido aqui refletido, claro.
Eu, de minha parte, prefiro o cara verdadeiro, franco, direto, objetivo, que age sem enleio, sem titubeio, sem indecisão, sem que isso signifique ser colérico, sem que, por ser assim, seja descortês ou deselegante, pois podemos, sim, ser afáveis sem ser subservientes. Não precisa, pois, ser mal-educado, zangadiço ou conflituoso para ser verdadeiro e crível. Basta não ser oportunista, titubeante, disfarçado, dissimulado, falso manso, falso cortês, moderado de aparência ou sereno por conveniência.
Todos podem, sim, se mostrar convictos, ter firmeza de posições, ter gênio e caráter fortes, sem ser mal-educados, convivendo bem e civilizadamente, mesmo com aqueles com os quais não concorda.
A verdade é que, no mundo em que vivemos, há uma multiplicidade enorme de caráter, alguns do quais são simplesmente abomináveis, mas toleramos, somos compelidos a suportar, pelo bem da convivência.
Decerto que o bonzinho, o afável, o cordato, o amigo de todos, o cara legal, enfim, nem sempre é, necessariamente, um mau caráter. Contudo, embora não o seja, tem algo abominávell que lhe distorce a personalidade, que é fato de querer agradar a todo mundo, motivo pelo qual ele não assume posições, parecendo, nesse cenário, não ser confiável, porque costuma dizer o que o interlocutor quer ouvir e não a verdade que deve ser dita.
Quanto a mim, não sou do afago fácil, da tapinha nos ombros, do elogio gratuito, do sorriso fácil e oportunista, mas ainda prefiro ser como sou, embora algumas pessoas vejam como defeito essa minha maneira de ser.
Portanto, aquele que está sempre disposto a concordar, que não perde a oportunidade para se fazer simpático, que quer estar de bem com todo mundo, parece, aos meus olhos e de muitos, que está sempre dissimulando, usando a arma da simpatia aparente para esconder algo, para aparecer bem na fita, como se fosse amigo de todo mundo; e, por mais que queiramos, isso nunca será possível.
José Luiz Oliveira de Almeida é desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão. Foi Juiz de Direito da 7ª Vara Criminal e Promotor de Justiça. Também lecionou na Universidade Federal do Maranhão e na Escola da Magistratura do mesmo estado, tendo optado, há alguns anos, pela dedicação exclusiva ao Poder Judiciário.
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