sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Curitiba cortou R$ 2 milhões da cultura e vetou 60 projetos aprovados em edital 

Artistas e produtores culturais classificados no Edital Livre 2016 acusam Prefeitura de “calote”


Cerca de 40 artistas e produtores culturais protestaram nesta quinta-feira (8) contra o cancelamento do Edital Livre da Fundação Cultural de Curitiba. A manifestação aconteceu em frente à Prefeitura, a partir das 13h. Quatro representantes da classe artística foram recebidos por Itamar Abib Neves, chefe de gabinete do prefeito, e demonstraram insatisfação com o que classificam como “calote”: o corte dos 2 milhões de reais que deveriam financiar 60 projetos culturais em 2017. A anulação do edital foi anunciada há seis dias pela Prefeitura, que citou o “cenário econômico desfavorável” como argumento para a medida.
Cléo Cavalcanti, Fernanda Perondi e Renata Roel participaram do ato desta quinta-feira (8) em frente à Prefeitura.
O chefe de gabinete repetiu hoje as mesmas justificativas da nota publicada semana passada, e acrescentou que há cortes no orçamento em quase todas as pastas. A cineasta Laís Melo, uma das quatro manifestantes que participou da reunião, afirma que a cultura nunca foi prioridade na gestão do prefeito Gustavo Fruet (PDT). “Com o teto previsto para o nosso projeto, a gente não conseguiria pagar nem o piso dos trabalhadores, nem dar a eles uma estrutura adequada”, lamenta. “Vivemos, em todo o Brasil, um momento de ataque às instituições de pensamento crítico, e a reforma do ensino médio é um exemplo muito claro disso”, completa.

Bina Zanette, uma das articuladoras do protesto, disse que os representantes da classe artística saíram da Prefeitura desiludidos com as perspectivas para 2017: “Eles falaram sobre as dificuldades financeiras, os cortes que estão fazendo em outras instâncias, e inclusive sobre a chance de cancelamento da Oficina de Música de Curitiba [de 7 a 29 de janeiro]”. Nos próximos quatro anos, o prefeito será Rafael Greca (PMN), eleito no segundo turno com o apoio do governador Beto Richa (PSDB).

A Prefeitura de Curitiba investe menos de 1% de seu orçamento em cultura. O Edital Livre era a única verba oriunda do Fundo Municipal de Cultura em 2016.

Reféns do descaso
 
Fernanda Perondi é atriz e participou da elaboração do projeto Escambos: sotaques e olhares, que envolveu cerca de quinze profissionais de teatro do Paraná, do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Conforme sugerido no edital, os artistas de fora de Curitiba viriam à cidade em junho de 2017 para um mês de intercâmbio de técnicas e de ideias sobre a arte cênica. O projeto custaria R$ 45 mil aos cofres da Prefeitura, e também foi vetado. “Fizemos milagre para caber o projeto nesse orçamento, e aí veio essa notícia do cancelamento. Mas ainda temos um bocadinho de esperança”, admitiu, enquanto aguardava os colegas do lado de fora do gabinete do prefeito nesta quinta.

O músico Rodrigo Fonseca teve dois projetos aprovados no edital, antes da revogação. O primeiro iria financiar a organização de recitais gratuitos de chorinho durante feiras de alimentos orgânicos em Curitiba. O segundo, na área de patrimônio, propunha uma pesquisa com mulheres e crianças indígenas que sobrevivem da venda de artesanato na cidade. “Só fomos saber da revogação no dia 2 de dezembro, sem nenhum tipo de aviso ou preparação”, disse o artista. Assim como os autores dos demais projetos classificados, ele chegou a abrir uma conta corrente a pedido da Prefeitura, e aguardava apenas a assinatura de Fruet para a liberação da verba.

Giusy de Luca é autora de um dos projetos mais bens avaliados do edital, que previa a instalação de contêineres para ensinar compostagem a jovens e adultos da Cidade Industrial de Curitiba (CIC). “É um descaso. Tem pessoas que ficaram dois meses elaborando o projeto!”, lembra. “Eles podiam ter avisado antes que não ia ter o recurso…”.

A atriz e contadora de histórias Cléo Cavalcanti afirma que toda a cidade será prejudicada se a Prefeitura insistir na revogação do edital. “É importante lembrar que os projetos movimentam toda a economia, os comércios… Enfim, pra fazer um cenário para uma peça, você precisa de materiais de construção, e isso atinge milhares de pessoas”, exemplifica. “Todo mundo sairia ganhando”. Cléo foi uma das artistas contempladas com o projeto Girolescas narrativas, que iria promover rodas de contação de histórias e debate com cerca de cinco mil crianças e adolescentes de todas as regionais de Curitiba.

As informações são do repórter Daniel Giovanaz
Edição da Agência Baluarte

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