domingo, 16 de outubro de 2016
Endividamento chinês e crise mundial preocupam economistas
"Se a China despencar, não passaremos ilesos”,  alerta especialista.

A China vem acumulando desequilíbrios financeiros e uma dívida crescente que podem se traduzir em um novo choque financeiro global. O endividamento chinês no final de 2015 já correspondia a cerca de  255% do PIB, um acréscimo de 107% nos últimos oito anos. Com uma carteira de empréstimos de US$ 28 trilhões, uma crise do setor financeiro chinês teria consequências globais. O economista da Simplific Pavarini e professor de economia do Ibmec-RJ, Alexandre Espírito Santo, se diz preocupado com o endividamento das empresas chinesas. 

“Se você não paga o empréstimo do banco, ele tem prejuízo, e isso acarreta sim em um alerta”, disse. “Por que todo dia sai alguma coisa nova da China? Os analistas econômicos são como médicos que ficam com o dedo no gogó do paciente esperando algum sinal de sintoma. Tem que ficar de olho. Se a China despencar, vai ter um preço no mundo inteiro, e não passaremos ilesos”, completou o economista, acrescentando: “As economias estão interligadas por causa da globalização financeira. Aquela tese do descolamento não é factível. Então qualquer crise grande no mercado internacional afeta aqui, porque o canal que interliga as economias é a taxa de câmbio (dólar)”.

Segundo o diretor do Centro Chinês de Pesquisa Econômica e reitor da Escola Nacional de Desenvolvimento, ambos da Universidade de Pequim, Yao Yang, em um artigo publicado no Valor Econômico no mês passado, “a maior parte dessa dívida é detida por empresas estatais, responsáveis por apenas um terço da produção industrial, ao mesmo tempo em que recebem mais da metade do crédito concedido pelos bancos chineses. Embora a relação dívida sobre patrimônio do setor industrial como um todo tenha diminuído ao longo dos últimos 15 anos, a dívida das estatais chinesas aumentou desde a crise financeira mundial de 2008 para uma média de 66%, 15 pontos percentuais superior a de outras categorias de empresas”.

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Crise na China pode afetar o resto do mundo.
 “A China tem um problema financeiro grave. Os bancos chineses emprestaram muito e não estão recebendo de volta, muitas empresas vão dar calote. E o quadro mundial já não está muito bom”, enfatizou o professor de economia da FGV/EPGE, Antonio Carlos Porto Gonçalves, que apesar da preocupação, demonstra otimismo na resolução do problema. 
“Entretanto, as crises que não são previstas são muito mais complicadas. O governo chinês emite moeda e pode evitar essa crise. Na crise de 2008, o governo americano socorreu os bancos americanos, por que isso não poderia acontecer na China? Eu sou otimista”, exclamou Antonio. 

Esse fenômeno pode não ter sido problema quando a economia chinesa estava crescendo, mas, para analistas em geral, pode representar, hoje, um grave risco econômico. 
“Isso vai estar no radar dos mercados ao longo de 2017. Se a gente tiver uma pneumonia na China, o mundo vai ressentir”, completou o economista e professor do Ibmec-RJ, Alexandre Espírito Santo.

Gigante asiático

O impacto da China no nível internacional gera interpretações bem distintas. De uma perspectiva econômica, o crescimento acelerado da China e a expansão de suas exportações nas últimas décadas são tanto objetos de elogios quanto de críticas. Desde 1978 quando começou o processo de abertura do mercado, instaurada pelo secretário-geral do Partido Comunista Chinês, Deng Xiaoping, tem havido um aumento contínuo do peso do mercado na economia chinesa, e consequentemente, especulações a respeito de uma eventual crise financeira. 

“Apesar dessa abertura gradual da economia, o sistema financeiro chinês tende a ser mais controlado do que nos outros lugares do mundo, em teoria essa presença do estado deveria fazer que a instabilidade fosse menor”, defendeu o professor de economia Unicamp, Bruno De Conti.

Para Bruno, as especulações são comuns, mas é ainda distante a possibilidade de uma crise se instaurar na China. 

“Há dois anos houve um problema com a bolsa de valores em Xangai, e aí se especulou sobre uma crise por lá. Mas quando a gente olha para os bancos, os cinco principais que estão entre os maiores do mundo, são todos públicos. E isso dá, portanto, ao estado uma capacidade maior de controle até mesmo em eventuais momentos de crise”, completou. 

Hoje a economia chinesa é a segunda maior do mundo e o país é o maior exportador mundial de mercadorias com cerca de US$ 2,27 trilhões, ou seja, 14% das exportações mundiais em 2015. O segundo colocado são os Estados Unidos com cerca de 9% das exportações mundiais, e o Brasil aparece em vigésimo quinto lugar, com 1,2%. O interesse chinês no cenário econômico está concentrado numa aposta de continuidade do crescimento acelerado e na defesa do processo de globalização da economia. A economia chinesa se transformou no principal motor de crescimento da economia mundial. 

AS INFORMAÇÕES SÃO DA REPÓRTER   REBECA LERIERI , DO JORNAL DO BRASIL
EDIÇÃO DA AGÊNCIA BALUARTE

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