segunda-feira, 10 de novembro de 2014
SIOGE: PATRIMÔNIO DO MARANHÃO
Do retorno de um baluarte cultural no governo
Flávio Dino
Paulo Melo Sousa*
Em
matéria publicada neste jornal no dia 17 de outubro passado, o escritor Herbert
de Jesus Santos, jornalista aguerrido e preocupado com a cultura maranhense,
levantou uma importante bandeira, conclamando o futuro governador do Maranhão,
Flávio Dino, a ressuscitar o antigo Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do
Estado – SIOGE, que foi largado às moscas pelos governos anteriores.
O
prédio abrigava o maior parque gráfico do Maranhão, e prestou relevantes e
incalculáveis serviços ao estado. Desativado desde 1997, o SIOGE funcionava em
prédio localizado à rua Antônio Rayol, Centro Histórico de São Luís, e que se
encontra, no momento, totalmente deteriorado, um crime patrimonial perpetrado
contra o Maranhão. Situa-se ao lado do Mercado Central, outro logradouro
público que se encontra literalmente, em petição
de miséria.
Nesse
contexto, é importante informar que o prédio no qual funcionou o SIOGE foi
cedido pelo estado à Universidade Federal do Maranhão – UFMA, em acordo com o
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN. Segundo duas
fontes fidedignas, em caráter irrevogável. Dessa forma, fica difícil a retomada
do prédio pelo estado. No entanto, a proposta de reativação do SIOGE permanece
de pé, pois independe do prédio em si. Outro imóvel pode abrigar o órgão, de
preferência no Centro Histórico.
O SIOGE foi responsável pela efervescência editorial do Maranhão por anos; escritores e poetas pedem sua reativação. Flávio Dino mostrará interesse por este organismo importante da Literatura do Maranhão? |
Muita
coisa apodreceu no rincão maranhense, resultado do descaso e da falta de visão
de políticos míopes. Lembro-me que, em 1994, o meu primeiro livro de poemas foi
publicado pelo extinto Plano Editorial SECMA/SIOGE, numa parceria que foi
responsável pela revelação de muitos escritores maranhenses, e que hoje
continuam em franca produção.
A
Secretaria de Cultura do Estado organizava o concurso literário em busca de
novos valores, contratava a Comissão Julgadora e, após o resultado, o SIOGE
ficava responsável pela publicação dos livros premiados. Uma sintonia que
funcionou durante logo tempo. "Eu
lembro que ainda peguei os últimos anos do Suplemento Literário O Vagalume. Era
uma referência que se tinha de uma época onde conjuntamente existia uma
diversidade de espaços se não para escoamento, mas para a produção de livros:
Concurso Literário do Sioge, da EDUFMA, da SECMA, Concurso Literário Cidade de
São Luís, Festival de Poesia Falada da UFMA, Festival de Poesia do Poeme-se.
Enfim, havia uma esperança maior de publicarmos as nossas pretensões
poéticas", declara o ator e escritor Dyl Pires, que hoje integra a
“Companhia de Teatro Os Satyros”, de São Paulo.
O
suplemento literário “O Vagalume” ultrapassou as fronteiras do Maranhão. “Ele surgiu após as experiências das
edições especiais do Diário Oficial Especial, numa iniciativa
de Francisco Camêlo, que implantou a Equipe de Pesquisa e
Jornalismo do Sioge, em 1983, coordenada por mim e composta
pelos professores Maria José Vale de Oliveira, Alberico Carneiro e pelo
jornalista e escritor Jorge Nascimento, que produziram durante
cinco anos trabalhos de caráter científico e cultural. O Vagalume
surgiu no final de 1988, com a mesma equipe, só que tendo como editor
Alberico Carneiro”, informa o escritor Wilson Martins.
A
iniciativa elevou o nível cultural de várias gerações de maranhenses, não
apenas aquela que publicou seus textos no suplemento, mas também as de
pesquisadores ulteriores, que ainda hoje bebem nas águas desse mecanismo ímpar
da Literatura Maranhense contemporânea.
O
prédio no qual funcionou o SIOGE se encontra em área de tombamento, também de responsabilidade
do IPHAN, que pode e deve dar sua contribuição para a revitalização física do
imóvel, inclusive com renovação de sua fachada, que antes foi coberta por
azulejos modernosos, que nem de longe imitam os nossos azulejos portugueses
originais.
Por
incrível que possa parecer, a Secretaria de Cultura do Estado tem, no Centro de
Criatividade Odylo Costa, Filho, uma oficina de azulejaria que nunca foi posta
de forma efetiva em funcionamento. Alguns profissionais que ali trabalham
(dentre os quais o abnegado senhor Domingos) foram estudar em Portugal com
dinheiro do estado, e sabem reproduzir com fidelidade os azulejos portugueses
de outrora, os mesmos que ainda hoje adornam as fachadas de muitos de nossos
prédios históricos, apesar do vandalismo e do roubo de muitos exemplares.
Esses
profissionais estão à deriva, e a produção, ali, é pífia. Esse problema é muito
simples de resolver: a questão da recuperação da fachada do antigo prédio já
estaria a priori equacionada no que se refere a este pormenor, bastando
acionar, através da UFMA, a contribuição desses técnicos e especialistas.
A
revitalização do antigo órgão, o SIOGE é uma demanda antiga da classe artística
maranhense, e a atual movimentação, capitaneada por Herbert Santos, tem o aval
da maioria dos intelectuais contemporâneos do estado ou que moram fora do
Maranhão.
O
governador eleito, Flávio Dino, é, além de um político já habilidoso, um homem
sensível, que possui formação intelectual, e que é dotado de informação
cultural, dono de sensibilidade, que sabe ouvir com discernimento. Temos
certeza de que está atento a esta demanda, com relação ao SIOGE, cuja
revitalização só lhe dará o respaldo de que veio para mudar, de verdade, o
Maranhão, em todas as suas estruturas, das quais a cultura representa um dos
mais imponentes pilares.
·
Poeta, jornalista, pesquisador de cultura
popular, Mestre em Ciências Sociais.
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